terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Se mantiverdes vossas bocas caladas, ou nossos votos de final de ano

Novamente. Tenho fama de mal humorado. Pode ser verdade, mas esta face apenas se revela mais presente quando os idiotas insistem em falar idiotices nos meus ouvidos, que às vezes, mesmo tentando não ouvir nada aparece alguém disposto a não ser particularmente idiota, mas procurando sim fazê-lo publicamente, de modo a atestar tamanha idiotice e testar a paciência alheia.
Sempre achei ser particularmente irritante visitar livrarias. Não pelos livros, mas pelo tentativa de exibição de capital cultural de certos freqüentadores. Sempre há aquele que diz coisas como olha, que excelente este best seller de última qualidade. Como é bom fazer com que outras pessoas participem do meu mau gosto.
Mas, um episódio merece ser aqui relatado. Ao entrar em uma imensa livraria da capital (e não "das Kapital" como preferem os mais politizados, ou politicados) estava eu observando a estante de livros estrangeiros, quer dizer, edições estrangeiras mesmo, quando uma senhora relativamente jovem e seu marido encontram clássicos da literatura em inglês e ela , ao segurar um exemplar de "The Odissey" em uma mão, e na outra um exemplar de "The Iliad" diz para seu marido:
Que bom encontrar estes livros aqui. Sempre quis ler a Ilíada e a Odisséia no original.
Não que eu faça questão de exercer meu mau humor publicamente, ou que eu seja cronicamente mal humorado, mas o fato é que os idiotas teimam em dizer idiotices ao meu lado. Afinal, todos sabem que o Homero era latino e, assim sendo, não poderia escrever os originais em inglês, mas sim em latim culto. Sempre, é claro, fortemente inspirado por Virgilio, o qual, entre um livrinho e outro, adorava levar o Cervantes para conhecer o inferno.
Mas, bricandeiras à parte, o que realmente é chocante, não é o fato daquela senhora não conhecer Homero, sabendo que ele escrevia sobre o duelo entre Menelau e Páris. O fato realmente assustador, é que surge no ar, uma idéia de que a língua inglesa é a língua dominante e que toda a cultura emana dali, quer dizer, acredito que tais pessoas representam uma grande parcela da população que pode ser plenamente alfabetizada (ou alephbetizada), capaz até mesmo de ler um livro em uma língua estrangeira, mas que, pela total ausência de espírito crítico, desperdiça capital cultural em questões frívolas.
Concluindo. São estes os votos de natal e ano novo deste blog: percamos menos tempo com questões frívolas, mais espirito crítico para todos, mais solidariedade e, também, que mais idiotas aprendam a ficar com suas bocas fechadas. Sejam os idiotas políticos, jornalistas (principalmente os idiotas pertencentes a estas duas categorias) ou algum vizinho inconveniente e claro, alguns dirão, melhor humor para o autor deste blog. Assim faremos um mundo um pouco melhor.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Ainda chegaremos lá

Meus planos de ficar rico com o blog parecem estar indo cada vez melhor. Nesses dias em que o maior valor apregoado é mesmo o valor monetário, absolutamente tudo pode ser avaliado e medido em termos de papel moeda. Acabei descobrindo uma avaliação deste blog. Agora, otimistamente, penso em enriquecer apenas publicando o textos por aqui. O valor não é lá essas coisas. Eu até pensei estar na casa do milhar, mas reparei na vírgula após o número dois, mas já paga o café que uso como estimulante para pensar e ficar acordado enquanto escrevo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Atividade poética e uma piadinha infame

O que faz o poeta atualmente?

- Nada de concreto, apenas alexandrinamente soneteia por aí.

É o fim do mundo, seu imundo

Certas paranóias chegam a fazer parte do imaginário pupular. Desta vez, alavancada por um filme de terceira categoria (no sentido intelectual, claro, já que no sentido da produção é primeira categoria mesmo), volta à tona a paranóia do fim do mundo. Não sei se por inveja da geração anterior, sempre desejei ver alguém de barba e cabelo comprido carregando uma plaquinha anunciando: o fim está próximo. Mas agora que estamos perto disso não acho a menor graça.
Desta vez, o fim tem data marcada. Então, vale a pena discutir o que seria fim do mundo. Provavelmente o holocausto foi o fim do mundo para milhões de pessoas. Certamente os que dormem sob pontes acham isto o fim do mundo. Ter um continente de plástico a vagar pelo oceano é o fim do mundo. Pensar que os americanos apenas conseguem ver o seu país como centro do mundo é o fim do mundo. Os conflitos, padrões sociais, convenções sociais, aquecimento global, hipocrisia, crescimento populacional desenfreado, poluição, agrotóxicos, agronegócio, colonialismo ideológico e social, tudo isto é o fim do mundo.
Mas, depois de pensar muito a respeito do fim, devemos tomar algumas decisões, tal como onde estar? Em algum lugar abençoado que não será atingido pela enorme onda que varrerá a humanidade para baixo do tapete da existência no universo? Não, acho que o importante realmente não seria onde estar, mas com quem estar.
Certamente esta postagem pode parecer um tanto quanto, digamos, vazia de significado. E é mesmo, a não ser quanto à preocupação de com quem passar o fim do mundo. Afinal, ano novo tem todo ano, mas fim do mundo, provavelmente acontecerá apenas uma vez.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Etimologicamente

Lembro do feriado do sete de setembro: dia da independência, dia de dar uma espiada nas marchas que passam na avenida, tanques, pessoal vestido de verde sem apelo ecológico, crianças com cataventos e uma certa emissora de televisão partindo para cima do público, a perguntar se as pessoas presentes lembravam qual o ano da declaração da independência do Brasil, talvez, mais precisamente, o dia em que o país mudou de dono.
Já que o feriado da proclamação da república não teve sentido algum (afinal foi celebrado no domingo) darei umas breves explicações para elucidar o sentido da coisa toda e prestar aos meus leitores (agora já são oito) um serviço, para que não fiquem constrangidos na frente da câmera ou de algum repórter pentelho.
República: vem de res publica, significa a vaca pública, mas não no sentido pejorativo. Quer dizer, a vaca tem dono, mas é de todos, do público, de um grupo numeroso de pessoas, mas não de uma multidão qualquer, e sim de pessoas com "interésses" específicos no bem comum da vaca. E ainda assim existe o problema da alta do preço do leite e da carne, o que me leva cada vez mais a aderir ao vegetarianismo, ou, há males que vem para benes.
República: significa publicar novamente, como aconteceu com o Campos de Carvalho. Antes era um verdadeiro garimpo encontrar qualquer livro dele, mas graças às republicações, hoje podemos encontrar a um preço razoável "a vaca de nariz sutil", "o púcaro búlgaro", "a chuva imóvel" e "a lua vem da ásia", embora ainda fique a editora nos devendo "tribo" e "banda forra".
República: algo que só funcionava e tinha sentido prático e pleno na cidade de "Callipolis", cidade na qual cada um se acupava de uma única tarefa, aquela para a qual era melhor dotado por natureza.
Resumindo: já que república é algo que muita gente explica e poucas realmente entendem, a proposta do texto de hoje é (além de tirar o blog desse limbo criativo) estabelecer um feriado que não caia num domingo. Um novo feriado chamado "reclamação da propública", um feriado para protestar em prol das coisas públicas, das causas movidas por pessoas unidas pelos mesmos direitos, em torno de um bem comum.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Carro-forte, carro-fraco

Feito ambulância do capitalismo, anda pelas ruas o carro-forte levando dentro de si o agonizante papel que chamamos de moeda.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Herói nacional

Que os mais rebeldes não se preocupem. Não vou publicar um texto cheio daquelas papagaiadas lugares comuns (embora verdadeiras) que ouvimos e vemos por aí, do tipo herói é aquele que vence apesar das dificuldades, que é solidário, queganha salário mínimo e chega ao fim do mês, etc.
Mas, como meu amigo otário sugeriu que fosse criado um autêntico herói nacional, sugiro aqui a aparição do palhaço da justiça. Como nasceu? Ontem, ao passar perto do Palácio Piratini, durante uma manifestação contra a governadora, pude perceber que quase ao lado do escritório de trabalho do governardor(a) fica o chamado "Palácio da Justiça". Como protestar contra a governadora é justo, útil e coerente (para dizer o mínimo), mas os fatos que levam ao acontecimento dos protestos são uma verdadeira palhaçada, acho melhor mesmo criar o palhaço da justiça, o herói capaz de mostrar como é a justiça no país, se aqueles processos, que não citarei aqui, forem arquivados, o palhaço da justiça entrará em ação, fazendo com que a população possa rir de sua tragicomédia, antes que os políticos façam-no pelo povo, afinal, quem ri primeiro ri muito melhor e já que somos constantemente feitos de palhaço, por que não usar como identidade secreta?
Mas o melhor sobre o palhaço da justiça é que ele pode ser qualquer pessoa, um gari, um funcionário público, um professor, ou qualquer um mantenha seu sentimento de indignação e não acredite nos governantes.
Por via das dúvidas e por via das atuações também, comprei um narigão vermelho e, assim que encontrar uma cabine telefônica, estarei pronto para sair dali com as calças largas, sapatos grandes, nariz e maquiagem, pronto para combater esta grande palhaçada. Enfim, o palhaço da justiça é qualquer um que seja feito de palhaço pelos governadores, prefeitos, presidentes, ministros, medidas provisórias e afins.
Portanto, os políticos deverão ter cuidado ao tentar cometer alguma fraude, pois, atrás deles pode estar o palhaço, pronto para borrifar água com sua flor na lapela, ou dar-lhes uma cacetada com o balão em forma de porrete.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O planeta dos simiescos

Recentemente adquiri em uma banca de jornal um exemplar de "O Planeta dos Macacos" do francês Pierre Boulle. Já virou cine-série no final dos anos 60, ganhou nova adaptação cinematográfica em 2001, dirigida pelo Tim Burton, que, na minha opinião deixou muito a desejar. Portanto, cinematograficamente, atenho-me à versão de 1968, aquela com o reacionário do Charlton Heston. Mas o fato a ser discutido aqui não é a qualidade das adaptações, nem a ideologia dos atores.
Ler o livro e assistir ao filme é como ter uma visão espelhada da humanidade, a ordem das coisas parece invertida, os macacos tomaram conta do planeta e mantêm os humanos sob controle, mas assim que atingem um grau mais elevado de evolução intelectual e material, passam a incorrer nos mesmos erros da humanidade (ou da civilização predecessora, no caso): obscurantismo, retenção da informação como forma de controle, divisão da sociedade através de sistema racial e, acima de tudo, preconceito.
Gosto de pensar que o livro usa uma teoria interessante, a de que no final das contas o homem tornou-se vítima do próprio processo evolutivo, não sabendo exatamente que rumo tomar e o que fazer com o progresso, tornando-se uma grande e imediata ameaça para o planeta, imagina-se que com várias, mas não suficientes, exceções. Claro, alguns anos depois Daniel Quinn lançou seu "Ismael", igualmente divertido e perturbador.
E, justamente, a grande e atual questão pode ser esta: o que fazer com o progresso, destruir o planeta, ou tomar consciência de que estamos atingindo um ponto do qual o retorno será impossível e tentar reverter a situação antes que os macacos dêem um salto na evolução e passem a dominar o mundo, sem que antes venha um gorila falante e tente abrir os olhos da humanidade para esta verdade aterradora e incontestável?
Mas, amenidades à parte, para quem não leu e para quem já leu, recomendo a leitura, releitura e até mesmo a treleitura destes dois belíssimos livros e lanço uma pergunta: será que o macaco está com a razão?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Afirmação da semana

Nem bem chega perto o final do ano e eu fico aqui pensando sobre a retrospectiva. Mas, como ainda é cedo para armar uma retrospectiva, prefiro comentar a afirmação da semana. Apesar de estarmos ainda em setembro, tal afirmação já é, na minha opiniao, forte candidata a prêmio, seja Nobel ou oscar.
Em assembléia geral da ONU, o presidente e astro pop dos E.U.A., o tal do Barack Obrahma, afirmou que os Estados Unidos não podem resolver todos os problemas do mundo.
Concordo. Vamos apenas esperar que os Estados Unidos apenas não criem mais problemas para o mundo (principalmente com suas soluções para o mundo) e já poderemos nós, terceiro mundistas, dar-mo-nos por plenamente satisfeitos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Pode parecer óbvio, entretanto...

Não sei se pela chegada da primavera ou por outro motivo qualquer, resolvi prestar aqui um serviço de auxilio à comunidade, postando umas dicas para melhorar a saúde dos cidadãos (ou cidadões, para os que gostam de flexibilzar a gramática).
Na verdade consiste apenas em algumas regras que, comprovadamente, estimulam o bem estar:
- Olhe para os lados ao atravessar a rua. Sim, ser atropelado pode causar muito mal à saúde;
- Compre alimentos orgânicos, mas apenas na medida que você for consumir. Não tente fazer um estoque em casa, por mais prático que seja. Assim, toda vez que tiver que comprar alimentos, você aproveita para dar uma caminhada até a feira, o que pode, também, ser muito saudável, desde que você olhe bem para os lados ao atravessar a rua para ir até lá. Na verdade, esta é uma dica muito boa, já que comprando alimentos nas feiras ecológicas você estimula a agicultura familiar (de pequenas propriedades), colabora com a não utilização de agrotóxicos, o que tem influência direta sobre a qualidade do meio ambiente, e de quebra, ajuda a descentralizar o comércio de alimentos, tirando uma fatia do bolo dos grandes produtores e varejistas;
- E claro, como diria meu apresentador de programa popular alienante e de gosto duvidoso favorito: use filtro solar.
E não consigo pensar em nada melhor ou mais eficaz para aumentar a qualidade de vida.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filosofia do descartável e do preço não arredondado

É difícil falar sobre valores, sejam eles fianceiros, morais ou afetivos. De qualquer maneira, parece que tais valores se relacionam. Um exemplo: há uns anos atrás gostavamos de tocar guitarra em uma banda. Compávamos, então uma guitarra, barata que fosse mas o prazer era andar com ela pendurada nas costas para dizer que fazíamos parte de um grupo exclusivo, a banda.
A guitarra tinha, então, um valor muito além daquela cifra de tantos reais, ou dólares, já que na época tínhamos que importar os instrumentos ou comprar usado pelo preço de novo.
Mas a questão vai além da exibição musical. Podemos pensar no valor das coisas de plástico: é apenas R$1,99, se estragar eu jogo fora e compro um novo. Mas os objetos de R$1,99 têm um outro custo: plástico precisa ser fabricado, lixo deve ser depositado em algum lugar, objetos que custam barato para nós podem estar sendo produzidos em uma fábrica no exterior que emprega mão de obra baratíssima, às vezes em troca de um prato de comida. Não aceitar a filosofia do descartável significa, também, zelar pela qualidade de vida e pelo meio ambiente.
Vejamos novamente o exemplo da guitarra, ela possuía um valor afetivo, coisa que não temos por um produto de R$1,99 que não é feito para durar e muitas vezes sua necessidade pode ser questionada.
E assim parece caminhar o consumo: menos afetividade, menos preocupação com o preço, já que custa tão pouco, cada vez mais compras. Objetos maiores, seja um despertador, um telefone, um brinquedinho qualquer ou um carro.
A publicidade nos diz: compre um carro novo, este agora tem preocupação ecológica, é bonito e possante, serás desejado pelas mulheres e invejado pelos homens, as donas de casa poderão comprar mais no mercado, já que o porta-malas é avantajado. Troque de celular, com este novo você será feliz, será aceito, será admirado, poderá ouvir música, assistir televisão, jogar video games e serve até para telefonar.
Mas no fim das contas, as coisas acabam cumprindo sempre as mesmas funções. Quero dizer, certas soluções somente surgiram para resolver problemas não existiam antes de tais soluções.
E assim, seguindo a filosofia do descartável, consumindo coisas que não são feitas para durar e que acabam formando um continente de plástico a vagar pelo oceano, acabaremos nós sendo descartados.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

É fogo, velho.

Na pequenez dos fatos públicos é que se revela a grandeza dos fatos particulares antes vistos como pequenos, mas apenas em sua aparência diria eu, mais especificamente diria que os fatos em si ainda não amadureceream, não cresceram. É o caso de uma cabeça de fósforo: é pequena, mas pode incendiar uma floresta ou mesmo uma alma, assim como a fagulha de um isqueiro, que dura menos de um segundo, mas é ela que acaba tornando verdadeiro o fogo da falsidade do gás.
Meus leitores poderiam perguntar: mas por que falar em chama e fogo agora? Simples, porque não devo ser o primeiro, mas também não poderia deixar passar a oportunidade de falar algo, mínimo que seja, sobre a presente data, de grande importância e motivo de orgulho para nós, o gaúchos e, claro, o fogo tem relação direta com o fato ocorrido com a chama crioula, já está no tutubo, passou no jornal da maior emissora de televisão do país. E eu aqui, resignadamente falando com atraso sobre isto, mas, como quase diria o Jânio Quadros: as forças ocultas parecem ter se manifestado no cerimonial acendimento da chama crioula. Será que existe uma conspiração contra o acendedor da chama? Creio que brevemente teremos resposta. Ou, pelo menos, se não tivermos resposta, temos ao menos um motivo para dar um pequeno sorriso com a desgraça alheia, o que, convenhamos, pode ser pecado, mas não chega a entrar no rol dos pecados capitais, portanto creio que não é uma violação do oitavo mandamento, o qual anda sendo bastante infringido há tempos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Roqueiros do país entender-me-ão

De certas coisas a gente acaba não escapando mesmo, os governos invariavelmente são corruptos, decepcionantes, são eleitos e estabelecidos por apostar e estimular as utopias das pessoas, mas acabam derrubando tais utopias, deixando-as jogadas no chão, feito aquelas antigas sacolas de papel que existiam antes do saco plástico dominar o mundo.
Não sou dado a apoiar governo algum, característica essa que, certas pessoas dizem ser oriunda da minha mania de mandar contra, de querer ver o circo pegar fogo, de teimar e achar sempre que a situação está uma merda. Há aqueles que dizem que minha mania de mandar contra é tão irritante quanto minha mania de querer usar mesóclise onde não deveria.
Em contrapartida, outros, mais chegados a mim, ou mais bajuladores de mim, dizem que tal mania tem origem em meu espírito de descontentamento, que é assim que se vai pra frente, que os descontentes não ficam parados, embora eu não tenha saído do lugar.
Também nunca fui de dar crédito às pesquias de opinião pública que grandes veículos de comunicação encomendam aos institutos.
Mas devo admitir que assim que nosso presidente deixar o poder, perderemos uma das combinações mais musicais da história da pesquisa de opinião pública e estatística, não ouviremos mais ninguém falar na tevê, nos rádios, ou nos jornais no "IBOPE do Lula". A pesquisa pode até ser de duvidosa intenção, mas como lembra aquele bom e velho rock.
E isso é o que vejo de mais positivo no governo federal.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

É frustrante ter frustrações

Seguidamente recebo emails com mensagens otimistas, ou que pelo menos pretendem passar um certo otimismo, mas que, invariavelmente possuem a seguinte moral: você pode achar que está mal, mas olhe para o lado, existe alguém numa pior.
Não sei se sou educado o suficiente ou suficientemente covarde para não responder mandando tais pessoas a certos lugares obscuros e não pronunciáveis, mas desisti de usar argumentos como: uma boa comparação não deve partir do princípio de que existem coisas piores, ou o fato de existirem coisas piores não fazem com que algo ruim seja bom.
Penso que essas mensagens são tão animadoras quanto um soco no estômago, e acabam sendo tão infrutíferas quanto aquele conselho que nos dão quando bebemos além da conta: se a cama estiver girando coloque o pé no chão que logo passa. Então, você coloca o pé no chão e fica ali, vendo tudo girar, mas com o pé fora da cama, o que na verdade apenas facilita um pouco a chegada ao banheiro. Quer dizer, acedito que esse tipo de mensagem não só carrega em si um tanto de conformismo, como também são um meio de dizer: este é o seu lugar, coloque-se ali resignadamente e seja tolerante com os intolerantes. Além, é claro, do fato de tais mensagens serem de conteúdo essencialmente materialista e moralizante, mas não pretendo discutir materialismo e moralidade aqui.
Mas, para amainar as coisas e não deixar que essas pessoas me roubem o autêntico sentimento indignado de incômodo e descontentamento, lanço aqui uma pequena lista das minhas principais frustrações:
1- Nunca dirigi uma ferrari;
2- Não sei dirigir carro algum, muito menos ferrari. Pensando bem, prefiro andar de bicicleta;
3- Nunca elegi um presidente ou governador(a), se bem que isto não chega a ser exatamente uma frustração;
4- As pessoas se recusam a andar apenas de bicicleta e deixar de lado os veículos motorizados;
5- Não era nascido na época da ditadura, não pude participar de grupos revolucionários e contar vantagens a respeito de meu passado glorioso como ativista;
6- Na verdade não sou ativista de nada, mesmo hoje, conseqüentemente não posso contar vantagens a respeito do meu presente glorioso e atuante;
7- Não fui eu quem escreveu Moby Dick, Ulisses, On the Road, O Encontro Marcado, ou Dom Quixote, ou ainda um mega best seller barato qualquer, sem valor estético ou histórico, mas que me permitisse acumular milhões em minha conta bancária;
8- Salinger não me concedeu uma entrevista;
8- Sempre me atrapalho nas contas.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tirando as dúvidas para escrever de modo que o texto seja claro e, acima de tudo, lúcido

São muitos os que me perguntam o que torna um texto confuso, mas acho que a pergunta que deveria ser feita é: o que torna um texto mais claro, menos confuso?
Então, por antecipação e para sanar a dúvida dos que pretendem escrever boas redações, eu (que é um pronome pessoal reto, mas que, neste caso, dada a circunstância de que me refiro à minha própria pessoa, designa nada mais nada menos que eu mesmo, e mesmo é uma palavra que pode equivaler a um adjetivo, advérbio ou substantivo é um recurso de coesão que não costumo usar muitas vezes, por questão de gosto e por achar que o efeito de sentido que desencadeia em um texto não é de bom gosto estético, e neste caso uso palavra "gosto" para designar uma sensação, não relacionando-a ao paladar, como correntemente e na maioria dos casos é usada, e faço uso da palavra maioria aqui, referindo-me a uma grande parte númerica extensa com relação à ocorrência do termo e não no sentido de maioria e minoria social, sendo parte numérica uma expressão sobre a qual prefiro não discorrer muito, já que nunca fui muito bom em matemática, preferindo, então, ficar quieto com relação ao assunto, sendo que no uso da palavra relação não faço a menor referência a relação sexual e muito menos relação matemática, pois, como já foi dito, não sou muito bom com números, e digo números no sentido matemático, embora não seja meu forte, e não no sentido de apresentação circense, pois, embora eu muitas vezes seja feito de palhaço, nada tenho a ver com circo, apesar de gostar das trapezistas, não freqüento os que tenham animais, por razões ideológicas, e também faço uso do trema, que foi extinto com a reforma ortográfica, mas ainda faço uso dele, também por razões ideológicas, e ideologia é algo que não tenho capacidade para explicar) vou responder que algo que torna um texto confuso é o uso de parênteses muito extensos.

Obra de arte no escuro

Comprei uma câmera fotográfica, mas como não sou bom fotógrafo vou fazer minha primeira exposição de fotos no escuro, para que ninguém veja nada demais nem de menos. Deixaria os críticos loucos sem saber como avaliar as fotografias, levaria o bando de sabichões leigos que gostam de bancar os espertos em exposições proferindo palavras de jargão para parecer inteligentes, e os deixaria conversar à vontade sobre minha exposição.
Certa vez, numa exposição do Cartier Bresson, um dos leigos dizia bem alto para que todos escutassem: Sabem por que o Bresson é (era) o melhor fotógrafo? Porque era (é) o mais simples.
Terrível engano, Bresson não tinha nada de simples, por motivos que não cabem a mim explicar, mas principalmente por ser igualmente leigo, portanto, vou expor no escuro e esperar que algum espertalhão apareça para dizer que foi uma genial exposição, porque difere de todos os paradigmas confrontando a verdade da imagem com a verdade da imagem interior, ou para que alguém de bom senso diga que a exposição não está com nada, onde já se viu provocar desta forma o espectador?

terça-feira, 21 de julho de 2009

O mapa da coisa

Saí para dar uma volta, pisei em um cocô de cachorro. Não era para ser um evento grande ou mesmo pequeno, mas, quando voltei para casa, vi que tinha deixado no meu tapete uma pequena marca, feita de merda, que parecia o mapa do Brasil.
Entrei em um conflito. Meu nacionalismo latente não me permitia apagar a mancha, mas os hábitos de higiene e o bom senso me diziam para lavar o carpete.
Pensei na pessoa que saíra para passear com o cachorro sem levar um jornal ou sacola plástica para recolher o seu "produto". Aliás, um bom fim para a sacola de plástico e, principalmente, um bom fim para os jornais, já que o que certos jornalistas andam escrevendo atualmente assemelha-se muito ao que o cachorro tinha largado no chão.
Mas, voltando à pegada no carpete, poderia servir de metáfora para muitas coisas, teria muitas utilidades, substituiria aqueles mapas que a gente compra em livrarias, ou os atlas que são vendidos encartados em jornais. Eu poderia trazer os vizinhos para dar uma olhada. Talvez alguns até dissessem: olha, estou vendo a minha casa. Ali está Brasilia, a esplanada dos ministérios, e bem lá na parte de baixo está o Palácio Piratini!
Poderia mesmo dizer muitas coisas sutis e outras nem tanto, mas preferi simplesmente lavar o tapete, dando à merda o fim que ela deve ter.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sonrisal

Na lagoa o sol se dissolve.

Se o rock morreu vamos procurar os médiuns

Rock and roll, o rolar das pedras, e as pedras quando rolam não o fazem com suavidade, caem nas cabeças dos desavisados e talvez por isso mesmo o rock não morra ou crie musgo.
De qualquer maneira, vamos aproveitar a data para dar uma escutada nos Beatles, aos quais muito devemos e lembrar que rockeiro não é simplesmente o cara que toca uma guitarra em altíssimo volume e com distorção, mas aquele que carrega em si um profundo sentimento de inconformidade.
Desse sentimento de inconformidade é que vem a idéia de que podemos considerar rockeiros caras como o Tom Zé.
Então, eu diria, que mais do que uma data para vender discos, o dia internacional do rock é também um dia para lembrar que ainda existe um pouco de rebeldia, mesmo que seja uma rebeldia com resignação, uma não aceitação do sistema (olha ele aí novamente!), ou uma simples vontade de chutar os alto falantes dos supermercados, farmácias, academias de malhação e desses carros modificados cujos donos fatalmente ouvem música ruim em seus superpotentes aparelhos de som.
De qualquer maneira, felicidades para todos os colegas rockeiros.

sábado, 11 de julho de 2009

Eremitando na cidade

Não quero uma casa no campo. Não sei viver sem os confortos da cidade, mas parece mesmo que a maioria das coisas, atualmente, é feita para nos roubar a paz urbana: carros barulhentos com sons superpotentes e motoristas irresponsáveis, calçadas estreitas lotadas, pessoas em geral.
Por todos esses motivos decidi, a partir de agora, lançar o movimento de eremitismo urbano, que consiste em morar na cidade e andar por aí silenciosamente resignado com o barulho, a poluição, a má educação e meditar sobre o nosso descontentamento particular, buscando maior contemplação interior, dentro de um grande centro urbano, já que não levo o menor jeito para morar no campo e sou contra qualquer tentativa de doutrinar as pessoas para adaptá-las ao nosso estilo de vida, já que bom senso é algo raro ultimamente.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Em que sou atacado gratuitamente por fãs de má música de maus compositores

Dia desses peguei um taxi com uma motorista, não com um motoristo. Fiquei meio desajeitado ao pensar que a moça que veio abrir a porta do carro seria um passageiro (uma passageira no caso). Mas ao entrar fiquei ainda mais supreso ao perceber que ela ouvia música boa. Sim, ela estava trabalhando com um cd do Led Zeppelin na vitrola do carro. A vida às vezes tem dessas boas surpresas.
No dia seguinte, ao chegar no trabalho, contei o episódio para alguns colegas meus que acharam um absurdo ouvir rock durante o expediente e fizeram questão de me esfregar na cara o ingresso para o próximo chou (show) de pagode ou axé music que aconteceria na cidade. Afinal esse tipo de velharia não é algo do interesse comum que agrade a todas as pessoas, como esse lixo que a grande massa escuta.
Claro, sou um cara muito calmo e disse que queria mesmo que o chou acontecesse, mas que explodisse com todos lá dentro. Digo que explodisse no sentido metafórico, obviamente, mas que explodisse mesmo assim, ao que um dos meus colegas respondeu que gosto é que nem cu, cada um tem o seu e que eu deveria respeitar mais o dos outros. Acho que ele se referia ao gosto dos outros, porque nunca desrespeitei o cu de ninguém. Estranho raciocínio esse, do qual posso deduzir: se gosto é igual a cu e cada um tem o seu, quer dizer que essas pessoas andam esfregando os seus cus nos meus ouvidos?

Coisas que não entendo II: a corporação

Outro dia um amigo me perguntou como funcionava a corporação. Tentei responder de maneira simples e resumida: Moro perto de um hospital, perto desse hospital há uma casa que oferece estacionamento e quartos para pernoite para parentes dos internos, por preços, digamos, não muito camaradas. Do lado da casa há uma farmácia, que vende os mesmos remédios que qualquer outra farmácia vende, mas com um pequeno acréscimo (lei da necessidade de emergência). Do lado da farmácia há um bar, que vende os mesmos produtos que os outros bares vendem, mas, a exemplo da farmácia, também com uma sutil variação de preço a favor do dono do bar (chamado barista). A expansão funciona mais ou menos assim, há um grupo que trabalha em um setor, que necessita de outro grupo, de outro setor. Vejamos o exemplo dos carros: antigamente andávamos de carroça, os carros foram criados e tivemos que construir estradas, criar leis para regulamentar o trânsito nessas estradas, licitações para empreiteiras construirem as estradas, leis para regulamentarem as licitações, juristas para estudarem as leis, professores para ensinar aos juristas, pedreiros para construir as faculdades onde vão estudar os juristas, gente carregando tijolos, médicos, cozinheiras, enfermeiras, escritores, historiadores, e assim por diante. Mas, acima de tudo, teremos vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores, presidentes, os quais tentarão zelar por seus próprios interesess acima de tudo, de todas as formas possíveis, e sob o pretexto de zelar pelos interesses do conjunto que engloba todos os envolvidos em suas atividades e que é chamado de coletivo. Tudo muito simples, obviamente.
Dentro dessa imensa oferta de possibilidades e variações fico me perguntando: não seria mais mais fácil se não tivessemos descido das árvores? Ou, tudo bem, até poderíamos ter descido das árvores, mas não poderíamos ter simplesmente ficado dentro das cavernas? Quanto teríamos poupado de dinheiro, meio ambiente, esforço humano, etc?
Claro, chamamos a tudo isso de corporação porque parece que há um senso profundo de cooperação entre os que podem produzir serviços, bens ou alimentos. Resumidamente, não consigo entender, muito menos explicar.

domingo, 28 de junho de 2009

Contexto é importante

Hoje a frase que mais me chamou a atenção foi dita por um dos comentaristas de futebol, na final da copa das confederações, enquanto a seleção brasileira perdia o jogo por dois a zero: "O Brasil está aceitando passivamente o domínio americano". Fiquei pensando em como parece que estamos perdendo a supremacia até mesmo onde éramos absolutos. Pensei: será que nesta política entreguista "o cara" está atingindo o futebol também? Mas não. Felizmente o comentarista referia-se apenas à patida de futebol, fui salvo da paranóia pelo contexto da frase.
Posso dizer agora que a seleção ganhou o campeonato, mas se pensarmos no exemplo irônico da Holanda versus Brasil na copa de noventeoito (noventa e oito) quando, um dia após a vitória, um banco brasileiro foi comprado por um banco holandês dá um certo medo de pensar no que pode vir por aí.
Sou um mero espectador de futebol, apenas assisto, nunca acreditei nessa propaganda de resgate da auto-estima da nação através das vitórias no esporte, seja lá em qual modalidade for. Poderia até apelar para o lugar comum dizendo que a vitória no futebol não paga a dívida externa.
Mas é de se pensar, deixando o contexto de lado, a frase do dia diz muito mais do que pretende.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Parece aquele tempo, mas não é mais

Para certas coisas a nostalgia não serve. Então, aproveitando a deixa do meu amigo Alexandre, aproveito para falar sobre a nova piada contada por nosso ilustre pessoal da casa civil: a tal da MP458, que dispõe sobre a regularização da ocupação de áreas situadas na Amazônia. Quer dizer, antigamente tinhamos medo de que a Amazônia fosse vendida, hoje esse medo se concretizou, mas ainda pior: será vendida sim, mas por preço simbólico ou doada.
Claro, não sou jurista, sou leigo, apenas um leitor, mas me considero o que meu amigo chama de "ambientalista de fim de semana".
Na tal da medida há um artigo que protege as áreas reservadas à administração militar federal, que são chamadas, de acordo com a redação da própria medida, de área de interesse social. Em contrapartida, preserva áreas ocupadas por populações indígenas e comunidades quilombolas, as quais, segundo a redação, parecem não ser nenhum interesse social. Realmente, o senso de humor e ironia do nosso pessoal no governo são muito refinados, só para citar um dos pontos de incoerência da medida, mas o pior dessa medida é seu aspecto de sangria, de levar à morte lenta e dolorosa.
Mas, voltando ao diálogo com meu amigo, digo que sou (somos) de um tempo em que, quando falávamos em reforma agrária, éramos banidos a pau das rodas de conversa, sob a alegação de que estávamos proferindo um discurso esquerdistazinho manipulado sobre algo que visava tirar a terra dos que tinham (e continuam tendo aos montes), para passá-las para pessoas desocupadas e aproveitadoras. Sim, naquele tempo (que ainda não faz tanto tempo assim) pequenos agricultores que buscavam investir em agricultura familiar eram chamados de aproveitadores e desocupados. Hoje, um "cara" que parecia antes estar do nosso lado chama os que estão de fato do nosso lado de mentirosos. Quer dizer que as terras que não se sabe como são demarcadas serão repassadas para ocupantes, áreas de preservação serão asfaltadas, dando lugar a rodovias, ou tornar-se-ão imensas áreas de pastagem?
É de se pensar: não haveriam inúmeras maneiras de burlar o sistema (olha ele aí de novo) de distribuição dessas terras, dada sua extensão e dúbia demarcação? Não seria melhor estabelecer mais áreas de preservação florestal?
Certa vez Hunter Thompson disse que em uma nação governada por suínos, os porcos sobem na vida. Aqui parece que a suinocultura está com tudo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mais listas e diluições

Meus (3) leitores podem até me acusar escrever textos mal humorados, ironizando com as situações que são incômodas para mim. Mas, ao ler este novo texto, não poderão deixar de notar que na verdade é um texto mal humorado ironizando com as situações que me incomodam. Tenho esbarrado freqüentemente (frequentemente) em livros de listas: os sei lá quantos discos, os não sei quantos vinhos, os milhares de filmes, tudo para ser consumido antes de morrer. Consumido, diga-se, e não lido, apreciado, assitido ou mesmo degustado. Seria isto uma tentativa de comercializar e massificar a cultura, ou um grande e genial golpe de editoras combinadas com produtores de outros setores culturais para obter mais vendas? Para mim não interessa, pois, para não ficar atrás (ou para trás) resolvi publicar minha lista particular dos livros e autores juntamente com os motivos para não deixar sua leitura de lado:
1- No urubuquaquá, no pinhém.
Como se não bastasse ter elevado a literatura brasileira a outro patamar com "Sagarana" e "Grande Sertão: Veredas" Guimarães Rosa conseguiu o melhor título da literatura brasileira. Reparem na colação da virgula.
2-Dom Casmurro.
Machado de Assis. Não há necessidade de maiores comentários, fora que até hoje ainda não se sabe ao certo se o diabo da Capitu chifrou mesmo o Bento Santiago.
3-James Joyce (todas as obras)
Se tem algo de bom para quem quer posar de intelectual é citar James Joyce. Quer dizer, o sujeito está em uma festa de intelectualóides videomakers, sentindo-se pouco à vontade, sem assunto com ninguém, quando de repente acontece aquela mostra de um curta metragem produzido pelo anfitrião que, ao final da exibição espera os comentários da platéia Basta dizer: gostei do personagem principal, remete ao paradigma do Ulisses Joyciano. Poucos se atreveram a lê-lo, dos que leram uns 90% entenderam chongas. Além, é claro, de ser um livro cuja importância é tão grande que houve até a instituição de um feriado em sua homenagem.
4-Moby Dick.
Mostra-me quem diga que existe melhor história de pescador do que esta, que eu te mostro alguém que não sabe o que diz.
5-Todos os livros do tipo mil e uma coisas para fazer antes de morrer.
É de vital importância para todos, o verdadeiro segredo da imortalidade. Basta fazer apenas mil das mil e uma coisas e não morrerás nunca, já que não são permitidas pendências do lado de cá.
E ainda dizem que é difícil alcançar a imortalidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Dia do Leopoldo

Para comemorar o Bloom's Day, nada melhor do que um postagem novinha em folha.
Por acreditar que o "Ulisses" do Joyce é um livro para ser venerado, as palavras ficaram poucas para tamanha comemoração. Portanto, em 16 horas tentando escrever algo a respeito dessa obra intransponível, tenho meu próprio dia de Leopold Bloom, mas sem ir a enterro algum. Nada de notável aconteceu, não foi feriado por aqui e a maioria das pessoas continua acreditando que Ulisses era um velhinho de olhos estranhos que caiu de helicóptero no mar.
Não posso e nem me atrevo a deixar nada de muito substancial senão umas poucas linhas a respeito do que aconteceu hoje.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Porque somos como somos

Então, já que estamos enfrentando um frio daqueles ultimamente, resolvi divagar um pouco sobre nossa condição e, também, sobre isto que chamamos inverno. Há quem diga que nós, os gaúchos, por possuirmos uma particular posição geográfica e ficarmos espremidos juntos à Argentina e Uruguai, desenvolvemos uma cultura particular, que nos difere do resto do Brasil. Concordo, afinal, o gaúcho é alguém que teima em dizer, mesmo em um frio desgraçado como o que faz agora, que vive em um país tropical.
Mas não são apenas essas particularidades que fazem de nós um povo dentro de outro povo, essa espécie de exilado dentro do próprio país, mas muitas outras, das quais citarei apenas as que considero mais relevantes:
As mulheres gaúchas são mais bonitas. Por passarem boa parte do ano entrouxadas acabam desenvolvendo uma aura de mistério, nunca se sabe o que pode ser revelado ao cair das palas e blusões de lã, jaquetas, mantas, toucas, etc. Como conseqüência das vestes, a mulher gaúcha não é bronzeada, e sim prateada, o que acaba colocando-a, inevitavelmente, em um patamar mais elevado com relação às mulheres de outros estados.
Nos dias mais frios pode-se desfrutar de muitas delícias proporcionadas pelo inverno: o pinhão, o quentão, a lareira acesa e poder fechar o dedão da mão esquerda na gaveta das meias, o que causa uma dor infernal em qualquer clima, mas se agrava no frio.
Poder colaborar com a indústria farmacêutica. Sim, o futuro de qualquer país depende da industrialização, então aqui contraímos todo tipo de infecção respiratória, resfriado, gripe do porco, da vaca, do camelo e acabamos passando boa parte do tempo de cama, o que também não deixa de ser algo inspirador.
Em alguns lugares temos neblina intensa, com isso, podemos estar em londres sem ter de viajar para a Inglaterra (para a Europa mais especificamente). Não posso dizer que acabemos avistando o Big Ben, mas eu mesmo já comprei um relojão de pulso e sempre ando por aí pensando que estou na sei-lá-o-quê-street.
Esse frio também faz com que bebamos mais vinho do que cerveja, o que também traz vários benefícios à saúde, principalmente à saúde do vinicultor (o cara que produz vinho, o qual contém várias coisas, dentre elas a uva, que é feita de vinho).
Nossa denominação também deve ser observada. Aqui no Rio Grande do Sul não somos chamados de sulriograndenses ou de riongrandenses do sul, mas sim de gaúchos, um termo que até hoje ainda não está bem explicado.
E, finalmente, uma grande vantagem que vejo aqui neste estado é a de que não temos axé music (até se ouve umas e outras por aí, mas contrabandeada e nunca tocada por um autêntico sujeito daqui) e somos considerados o estado mais rockeiro (roqueiro) do país, mas isto já é outra conversa.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Coisas que não entendo I: o sistema

Gostaria, mas gostaria muito mesmo que alguém, em um momento de iluminação criativa, me explicasse o que é o sistema.
Que insondável mistério é esse que ronda a todos nós, a que estranhos poderes ele serve, cujos desejos se confundem com o mal, e que, entratanto, sempre faz o bem?
Parece que há, em algum lugar do universo, alguém que dá ordens para pessoas que não sabem exatamente o que lhes foi ordenado, mas que devem segui-las, lógico, para que não se tornem vítimas do sistema, essa barreira virtual que nos impede de fazer algo simples do modo mais fácil.É menos complexo explicar o que é Deus do que explicar o que é essa barreira.
Você é rejeitado por estar fora de um determinado padrão e a culpa é atribuída ao sistema. Você tenta usar o computador, ele reaje mal e logo aparece uma mensagem dizendo: falha no sistema. Pessoas consomem mais alimentos transgênicos, embora haja nas portas das suas casas, ou a algumas quadras de distância, uma pequena feira ecológica e quando você pergunta a uma delas por que fazem isto, elas respondem: é o sistema, estou adaptado.
Mas não é só isso, parece que em algum ponto do desenvolvimento começamos também a trabalhar pelo sistema, policiando o nosso vizinho, nosso colega de trabalho, passando a exercer a função de cão de guarda leal, zelando pelos bens daqueles que estão sentando no topo de uma cadeia da qual não conhecemos os elos.
O mais curioso disso tudo é que alguns dizem que o Orwell profetizava a falência do sistema e que suas críticas mais duras eram dirigidas ao socialismo. Já eu acho que não. Acredito que Orwell profetizava a falência do indivíduo frente ao sistema.
Nunca fui dado a endossar teorias da conspiração, mas desse jeito está ficando difícil. Em breve estarei acumulando em casa milhares de cópias do apanhador no campo de centeio. Mas, caso alguém tenha alguma explicação para me dar a respeito disso eu aceito. Pensando melhor não aceito explicação nenhuma, afinal, tenho medo de me tornar mais uma vítima do sistema.

Motivo para comemoração

Sim, adicionei o mapinha neste blog e agora já tenho um motivo para comemorar. Três leitores e um número que indica mais ou menos uns quarenta visitantes (embora eu acredite que as visitas estejam divididas entre os três).
Então, para comemorar o número que extrapola minhas expectativas com este blog, nada melhor que um texto novinho em folha, saído do lugar mais obscuro de minha mente, falando sobre coisa alguma, ou melhor, falando a respeito de algo: o mapinha, meus três leitores e os mais ou menos quarenta supostos visitantes. Isto me leva a pensar que se eu escrevesse um livro, algo verdadeiro, feito de papel, com impressão em tinta, será que teria quarenta compradores? Um bom número, mas que não o tornaria um best seller. Afinal, o que faz de um best seller um best seller, a legitimação através da grande aceitação por um público leitor, a quantidade de entrevistas concedidas pelo autor?
De qualquer maneira, bom mesmo é comemorar a impressionante marca atingida, com direito a três pessoas que a internet chama de seguidores, o que me deixa com boas esperanças, pois, caso não dê certo o negócio de livros posso tentar formar uma seita, pelo menos teria três loucos para me seguir, ou para cair fora na hora h.

Dizem por aí, mas bem que pode não ser verdade

Outro dia fui atacado por uma pessoa que dizia que o tempo não existe, o tempo é criação do homem, o tempo isso, o tempo aquilo...
Tudo bem, o tempo pode até não existir, eu não entendo muito da teoria da relatividade mesmo. Não sou formado em física ou em astronomia e a melhor explicação que posso dar sobre o tempo é a seguinte: fiz uma viagem, levei um aparelho de MP3 que não era meu. Lá dentro havia apenas esses grupos de pagode com cantores chorões-risonhos. Quer dizer, essas aberrações com duzentos músicos que tocam a mesma coisa. A viagem que deveria durar três horas pareceu-me durar três meses ou três anos, e nem cheguei a passar da faixa um. Acabei desligando o aparelho e resolvi prestar atenção na paisagem, mas era noite e não dava para ver nada. Pensei em ler um livro, mas a estrada estava toda esburacada. Não consegui passar de dez páginas. Para mim estava provada a teoria da relatividade, pelo menos acho que estava.
Pus-me, então, a divagar acerca do tempo. Sem ele, nada existiria, tudo seria instantâneo. Logo, se o tempo não existe, como explicar que existam pessoas que trabalham, correm e passam toda a vida em função dele, como os relojoeiros? O Big Ben é uma grande farsa? Seria o tempo algo somente da competência dos meteorologistas?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

É possível perseguir um sonho?

Não assisto muita televisão, admito. Mas, se eu vi, muitos que não tiram o rabo da poltrona da sala devem ter visto também: a feiosa cantora da Escócia de voz angelical.
Sim, sua voz é muito doce, concordo. É afinada, concordo.
Mas não concordo mesmo é com o bombardeio de conselhos baratos de auto-ajuda: olha só, como uma pessoa tão feia pode cantar tão bem, conseqüentemente isto significa que a pessoa que tem um sonho deve ir atrás dele.
Particularmente acho uma grande humilhação, para aquela senhora e para o público.
Vou explicar. Não há nada demais no fato da moça cantar bem, afinal há uma lista interminável de cantoras feias.
A triste realidade é que, se a pessoa não tem aptidão para fazer algo, melhor mesmo é não fazer aquilo para o que não se está apto. Quer dizer, é simples, a cantora apenas possui essa condição, é genético, é favorecida por suas cordas vocais. Não está perseguindo algo impossível, não está tirando leite de pedra ou abrindo caminho pelo mar morto.
Sabe, é difícil se desviar deste tipo de propaganda, parece mesmo que temos uma certa empatia com as pessoas que passam por dificuldades e acabam chegando em algum lugar apesar de tudo, mas não concordo com a idéia de que todo mundo pode o que quiser, porque isto até fica muito bonito em livros de auto-ajuda, dá esperança, mas todos têm seus limites. Mas claro, a cobertura do fato dá uma pieguice insuportável à história.
O melhor conselho que eu poderia dar aqui (já escrevendo auto-ajuda), não seria para usar filtro solar, acreditar apesar de tudo ou ir atrás disto ou daquilo, mas sim, para de ver esse tipo de programação e concentrar-se em algo melhor.
O mais estranho nisto tudo é que li em algum lugar que querem fazer um filme sobre a história da escocesa. Quem fará o papel, a Julia Roberts?
Pô, será que querem nos tomar a todo custo o direito à desilusão?

Vantagens de se ter um tradutor na página

Algo que me deixou muito intrigado nos últimos dias foi esse tradutor que instalei neste blog. Agora posso ler as besteiras que digo em idiomas com os quais nunca pensei que fosse esbarrar.
Pode-se falar besteira adoidado e, mesmo assim, acionar o tradutor e pronto, em espanhol, italiano, árabe, inglês, catalão, tcheco, alemão, indonesiano (que deve ser a língua que se fala na India, ou a língua que os indígenas falam) e outros tantos.
O mais impressionante de tudo é que, por maior que seja a besteira que esteja dizendo, o tradutor faz com que pareça a coisa mais inteligente do mundo.
Não sei se é só comigo que acontence, mas seleciono o espanhol e pronto, automaticamente penso que estou lendo uma história do Quino (tudo bem, a maioria tem pouco ou nenhum texto, mas é espanhol mesmo assim, pô).
Só falta agora aparecer um programa que faça traduções do português para o português ou então eu passo a escrever em espanhol ou inglês e solicitar a tradução para ver o que acontece. É de se pensar. O que aconteceria, o cérebro virtual entraria em colapso? Receberia eu uma advertência por email para não fazer mais esse tipo de coisa? Apareceria alguém que leu este texto e para pensar "como pode haver um sujeito tão maldoso"?
Por via das dúvidas continuarei a escrever em português, por enquanto...

Envelhecer é preciso, ser imparcial também

Fui comprar uma passagem em uma agência de viagens. Havia lá uma moça muito mal humorada, um computador lentamente conectado ao sistema de vendas, uma idosa senhora que queria comprar, com três meses de antecedência, uma passagem para uma cidade fora do estado e eu. Eu objetivo, decidido a fazer o que tinha de fazer o mais rápido possível e a idosa argumentando com a moça que trabalhava lá:
- Mas por que não posso comprar a passagem agora?
- Nós vendemos passagem com um mês de antecedência no máximo?
- Mas vou viajar dentro de três meses. Quero comprar agora.
- Trinta dias.
- Mas você acabou de dizer um mês. Minha filha e meus netos me esperam.
- Se podem esperar três meses, podem esperar que a sehora volte aqui dentro de dois meses.
- O que, agora são dois meses?
Fui embora sem comprar minha passagem com antecedência de um dia. Acho que se ficase mais tempo ali, meu pedido teria fritado o cérebro da impaciente vendedora de passagens.
Envelhecer deve ser assim. Não ter muito o que fazer, além de visitar os parentes em uma viagem programada com três meses de antecedência. O pior é que, de alguma estranha maneira, isto tinha me parecido engraçado na hora: a vontade de dar um chute na bunda da velha, expulsá-la da agência dizendo que a minha compra era mais importante ou dar um soco no balcão de vendas e dizer para a vendedora: explica direito sua vaca.
Realmente a imparcialidade é algo especial.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Modesta proposta para evitar que a reforma ortográfica se torne um fardo para nós ou para o país

E não tem como não voltar ao assunto: a maldita reforma ortográfica. Parece que, além de servir de escopo para o joguinho de dizer letra por letra naquele programa televisivo, serviu, também, para aguçar o senso criativo deste profano aqui.
Ainda há muita gente discutindo como vai ficar, como vou escrever, como será, será mesmo a unificação da língua portuguesa?
Justamente, já que os propósitos ainda não estão bem explicados, e mesmo que um tanto tardiamente, resolvo lançar a seguinte proposta de reforma gramatical, afinal, já que a coisa toda parece realmente uma bagunça, também quero a minha fatia dessa torta que vai dar direto na cara do palhaço:
Fica suprimido o "h". Escreveremos omem, onesto, abitação e assim por diante. Afinal de contas, se não soa, para que escrever.
As representações gráficas dos fonemas passam a expressar tao-somente o som original. Quer dizer: "z" tem som de "z", "s" soa como "s" e "c" tem som de "c", o que nos leva automaticamente a suprimir o "q", já que este também tem som de "c", o "ç", já que tem som de "s" e os dois "s", já que estes parecem mesmo valer por um só.
Os adjetivos sempre precederão os substantivos. Exemplo: bonita mulher, quente dia, pensativo charuto.
Esta última pode até não dar certo. Mas, se deslocarmos os adjetivos, como ficarão poéticos os nossos diálogos.
Os pronomes retos, quando houver verbo, serão eliminados, já que a pessoa está marcada na terminação verbal, a menos que o verbo seja impessoal. Mas exceptua-se desta nova regra casos como o diálogo que segue:

-Quem pegou o dinheiro que estava aqui?
-Eu, quer dizer, ele.

Agora, acho que isso pode dar mesmo pano para a manga, mas estou tão resoluto e receptivo ao debate que não aceito críticas e nem admito perguntas a respeito desta nova proposta de gramática e qualquer comentário contrário será sumariamente eliminado.
No fim das contas fico pensando: tragam-me o atestado de sanidade mental do Qorpo Santo que eu assino embaixo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Bom mesmo é extrair os dentes

Passei por uma extração de dente. Não, na verdade foram duas extrações em um único pacote. Depois de muito pensar sobre como manter a calma na cadeira que geralmente é associada a uma cadeira de tortura, lembrei de um texto que um amigo publicara ao fazer uma cirurgia na vesícula, no qual dizia ter ficado muito tranqüilo porque o médico era fã de Bob Dylan e sempre podemos confiar em um fã de Bob Dylan.
A primeira pergunta que fiz ao dentista foi:
- O que você acha do Dylan?
Ele me respondeu:
- Dylan é um verdadeiro babaca. A única coisa boa são as gravações dos Byrds. A menos que você se refira ao Dylan Thomas...
Foi o que me tranqüilizou. Sempre podemos confiar em alguém que não gosta do Bob Dylan. Mas, se o dentista achasse-o mais ou menos, eu sairia disparando pela porta assim que ele virasse para calçar as luvas cirúrgicas, apesar de eu ser fã do bardo.
Ah, mas que droga. Este texto deveria ser sobre a extração dos dentes. O que tenho a dizer sobre isso é que acabamos realizando os sonhos de criança: comer bastante sorvete e ficar em casa lendo Ardil 22, ou outro livro qualquer que casualmente tenhamos começado antes da criurgia.

Um sujeito bem humorado

Dizem por aí que sou um cara mal humorado. Por quê? Só poque quando vou ao supermercado e tocam músicas ruins tenho vontade de quebrar os alto-falantes? Porque tenho vontade de chutar a bunda daqueles que gostam de trancar as filas? Porque tenho vontade de queimar os livros que vendem felicidade através de frases de sabedoria barata? Ou porque não gosto de cantores chorões-risonhos?
Não. Acho que me chamam de mal humorado porque acredito que gosto se discute. Porque não acredito na liberdade cerceada. Nessa liberdade que dizem por aí que temos, mas que não passa de uma imposição, imposição de uma maioria, infelizmente, mas imposição mesmo assim. Nas possíveis escolhas apresentadas para nós. Nessa anti-democracia, nessa falsa diversidade que anda solta e é alardeada por pseudo-intelectuais, mas que não passam de mais uma forma de podar as escolhas individuais.
Hoje um sujeito escutava algo que dizem ser música em seu carro enquanto eu ia para casa após o trabalho. É algo fundamental, o mau gosto da pessoa é proporcional à potência do som.
É como se alguém dissesse: olha, podes fazer o que gostas, mas eis a lista do que gostas...
Por que se vê tanto lixo circulando? Livros ruins, música ruim, programas de televisão.
Se democracia é seguir o que um grande número de pessoas pretende fazer prefiro seguir a minha auto-ditadura, com os dentes cerrados e a testa franzida. Sigamos, então, o caminho dificil, o caminho dos que têm vontade de derrubar os auto-falantes dos supermercados.
O Bukowski dizia: "...dê merda para eles e comerão". Acho que está na hora de andar pelas ruas de colherinha em punho.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sagradas famílias

Nesta época de escândalos e uso indevido de passagens no congresso, este profano aqui ainda consegue ficar chocado com políticos que mandam as famílias para passear na Europa sob o pretexto de que família é algo sagrado.
Então, acredito que devemos fundar um movimento em prol das sagradas famílias, reivindicando uso de cotas do imposto de renda, IPI, IPVA, ITCD, e tantos I alguma coisa quanto for possível, afinal, minha mãe sempre quis conhecer as catedrais do velho mundo. No fim das contas acho que nem seria um movimento tão revolucionário e que exigisse tanto esforço assim, a única mudança perceptível seria o destinatário dos benefícios do dinheiro público.
Claro, ainda existem trouxas que protestam contra o mau uso do dinheiro público, mas eu não. Eu aprendi, é por isso que se chama dinheiro público, para ser usado como melhor aprouver por nossos políticos. Se assim não fosse, o dinheiro seria privado e voltaríamos a protestar como na época das privatizações daquele outro presidente (aquele, cujo nome esqueci, cuja tese li, mas ateei fogo). O caso não é que existam políticos desonestos no país, mas sim políticos incompreendidos. Imaginem só, tantas reclamações a respeito da falta dos valores antigos, do respeito pelos mais velhos, blá-blá-blá... e nós aqui criticando toda essa boa gente que só quer zelar pela família, levando suas peruas emplumadas para fazer compras em Miami ou para ver o Louvre.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Inaugurando

Para inaugurar este blog, nada melhor do que um assunto quentíssimo, tal como a reforma ortográfica. Ferreira Gullar já afirmava só caberem no poema a mulher de nuvens e a fruta sem preço; e eu digo: só cabem na reforma o hífen, os acentos, mas não cabe o pronome, substantivo e adjetivo "o cara". Nada há de mais útil na língua portuguesa do que a expressão "cara", nehuma outra palavra é capaz de carregar em sua essência tanto e tantos significados. Por exemplo: O cara trabalha, trabalha e não sai dessa; O cara ficou parado e não fez nada; O Lula é o cara.
E agora, o que dirão os estudiosos de literaturas lusófonas a esse respeito? Farão eles uso do cara? Terão eles presidentes como o nosso cara? E agora, onde fica a unificação lingüística?
Tantas perguntas suscitadas por um único verbete e este cara daqui já vai ficando cansado.