sexta-feira, 29 de março de 2013

Não para tanto, mas também não para nada mais

Agora que temos evangélicos, embora eu preferisse dizer religiosos de um modo geral, mas já que a situação está assustadoramente polarizada e, mesmo que seja eu um defensor da liberdade de culto e do livre pensamento, e aí incluo o direito à liberdade de expressão religiosa, pois esta, para mim traduz nada mais do que um pensamento, uma corrente filosófica, digo que inevitavelmente fico assustado com a possibilidade, com o vislumbre de uma tomada evangélica do poder, numa ascensão dada por algum meio obscuro, embora declaradamente popular.
Imagino um estado cujo poder é exercido por esta "classe". Que tipo de leis teríamos, quais exigências teríamos de cumprir, seríamos tributados? Aqueles que assumissem o poder, exerceriam-no de forma democrática, ou existiria um ditador supremo, vitalício, mantido no poder pela força do medo, com seu exército de lacaios comprados por sua ignorância?
Após essa série de questionamentos, proponho que realizemos algumas imagens:
No fim do mês o contracheque terá, no campo de descontos, além do imposto de renda, do FGTS, do INSS, do vale-transporte, do convênio médico, haverá uma referência a um desconto de 10% a título de dízimo ao ditador supremo vitalício.
Haverá uma espécie de toque de recolher para orações, de tempos em tempos, quando provavelmente prestaremos reverência a um enorme televisor, o qual a essa altura já terá regredido a um aparelho valvulado, de tubo, de vinte polegadas, com aqueles botões giratórios enormes para trocar de canal, embora  todos os canais transmitirão exatamente a mesma programação. E a programação de oração transmitida não  será celebrada por um sacerdote ante um altar, mas sim por um sujeito de paletó, gravata e camisa branca, todo suado, esbravejando e proferindo discursos cujas inflexões seriam a mesma de um apresentador dos piores programas de auditório.
Os discursos do orador serão carregados de ódio contra os contrários, mas sempre com a devida justificativa embasada por uma visão distorcida, adaptada e tendenciosa de uma passagem bíblica.
Seriam banidos da sociedade músicas, alimentos, bebidas e cores que contrariem a boa vontade do ditador supremo.
A população faria votos de austeridade, de consumo, mas principalmente de pensamento, enquanto o supremo ditador permaneceria sentado em um mansão com dezessete piscinas;
Talvez não fosse muito diferente de hoje, mas pensar seria um hábito fortemente reprimido pelo ditador.
Claro, uma enorme parcela da população apoiará e ainda fará comparações com os heróis bíblicos, e todas as disposições e pensamentos contrários seriam considerados crimes, passíveis de punições pesadas e cruéis.
Felizmente todas essas possibilidades não passam de mero produto da imaginação de um sujeito que despende um bocado de esforço, intelectual ou nem tanto, para proporcionar um pouco de diversão aos leitores, mas se realmente acontecesse esse golpe, borrar-me-ia todo.

sábado, 2 de março de 2013

Prazer em camadas

Talvez seja o livro, ou os livros, o único objeto capaz de proporcionar prazer em camadas. Primeiro há a encomenda, se ele não está na livraria. Depois, outra camada, o sujeito fica esperando para que ele chegue, tem noção de seu aspecto, mas não sabe exatamente o que está para chegar.
Então chega o livro. O sujeito vai até a livraria retirá-lo, no caso de não ter encomendado de modo que pudesse receber em casa, fica ansioso para ver como está, para sentir o peso, passa por aquela sensação de que é como tinha visto, mas não é rigorosamente igual à foto que vira na internet.
Ao chegar em casa, a pessoa abre o pacote, cheira o livro. Suas páginas constituem, em si mesmas, várias outras camadas, muito mais finas. E avança na leitura, camada por camada. Algo que os novos formatos, os tablets, os e-books, os semelhantes a isso tudo não podem proporcionar, é essa relação sensorial entre o leitor e seu livro.
Mas há também o desprazer do sujeito que, ao participar de um amigo secreto, recebe um livro do David Coimbra, do Paulo Coelho, da Martha Medeiros, ou do Diogo Mainardi. Daí, danem-se as camadas, ele joga tudo para cima, rasga-o, página por página, prende fogo nele e amaldiçoa o sujeito que o presenteou até décima nona geração.

Ruindo...


- Oh, o windows diz que é importante baixar essa atualização chamada atualização WAT.
- Claro, é a atualização que identifica se a cópia é pirata.
- Agora já baixei, ele está me mandando uma mensagem estranha, dizendo que o meu programa não é genuíno, mas também diz que posso resolver entrando no sítio da Microsoft.
- Vá em frente.
- O sítio diz que devo pagar para validar a minha cópia.
- Claro, você acha que aquele cara de cabelinho estranho ficou multimilionário distribuindo cópias do programa dele?
- Mas essa porcaria de anti-vírus eliminou um arquivo importante e travou todo o meu sistema. O que eu faço?
- Muda pro ubuntu. É de graça, e acaba de uma vez por todas com esse problema de formatação, identificação de cópia, vírus...
- Não posso. Se eu fizer isso, quatrolinhos de cabelo foguinho estranho vai viver do quê?
- E tem mais, o windows sempre é genuíno. Genuinamente imbecil.