quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Colunismo

Sempre pensei muito a respeito da utilidade da coluna social. Onde poderíamos, se tais páginas não existissem, ler coisas como fulano passou as férias em Paris, outro, de sobrenome enorme festejou seu aniversário?
Claro, alguns jornais dedicam um grande número de suas páginas, outros um número pequeno, mas, mesmo assim, sempre pensei: e por acaso não existe uma coluna marginal. Não marginal no sentido criminal, mas sim no que se refere a estar à margem, neste caso, à margem da sociedade, ou melhor: society.
Leríamos então coisas como:
Pedrão e amigo bebem cachaça no boteco da esquina.
Zé colocando Pedrão para fora do bar, depois de pedir para pendurar um martelinho e ter tentado filar cigarro de um desconhecido que entrou ali para perguntar onde ficava a oficina.
Claro, às vezes também são públicados aqueles perfis, do tipo bate-bola, nos quais alguém sempre é inquirido a respeito do principal defeito e, invariavelmente, responde coisas como: sou perfeccionista, tenho um alto nível de exigência pessoal. Grandes defeitos.
Mas lá, na coluna marginal, os perfis bate-bola seriam assim:
Nome: Mané.
Profissão: Faço uns bicos por aí, por enquanto nenhuma profissão em particular.
Livro preferido: Só leio revista de mulher pelada.
Férias inesquecíveis: O que é isso?
Um elogio inesquecível: Não lembro quem me disse, em um churrasco, que a minha caipirinha era de matar. Não sei exatamente se era elogio.
Filme preferido: Não tenho tevê em casa.
Principal defeito: Minha mulher diz que quando estou dormindo ronco e peido muito, embora eu também o faça acordado.
Claro, a coluna marginal seria de difícil publicação no jornal, porque o editor não saberia onde publicar. Qual sessão teria que cortar, a cultural ou a econômica? Não, melhor suprimir o caderno de literatura. Afinal, não serve pra nada mesmo...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Por que certos instrumentos musicais não dão certo?

Sempre sofri por ter escolhido o baixo como instrumento, desde as piadinhas mais sem graça, até as mais refinadas. Mas em minha defesa e de vários outros, como Paul Mccartney, Jaco Pastorius, Ron Carter, etc. digo que o baixo é um instrumento plenamente acessível ao músico. Claro, como bom ortodoxo, uso baixos com quatro cordas, os quais, para quem possui o mínimo de intimidade com instrumentos musicais, exigem apenas quatro dedos (fora o polegar, que fica apoiado contra o braço) para tocar suas quatro cordas.
E por que não me tornei guitarrista? Embora seja mais glamouroso, tocar guitarra exige muita exposição do músico, não sou exibido, então fico ali, recheando a música.
E o violino? O mundo já teve Paganini, então, não precisa de outro.
E o piano? O piano é um instrumento que pode despertar a ira dos ecologistas, já que as teclas brancas podem ser feitas de marfim e as pretas de ébano, além de trazer todas as notas ali, ordenadas, esperando o ataque do pianista. Sem falar que é um tanto difícil de carrega-lo de um lado para outro.
E por que não a bateria? Porque não me parece funcionar bem um instrumento cujo nome está no futuro do pretérito.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sacrilégio

E para que não fiquem por aí dizendo que sou muito mal humorado, hoje, para amenizar as coisas e tentar plantar um leve e doce (ou amargo) sorriso nas bocas e olhos dos meus leitores e leitoras, uma história engraçada que ocorreu há algum tempo atrás, com pessoas reais do mundo fictício, cujos nomes serão preservados a fim de zelar por sua privacidade e integridade moral, física e intelectual.
Os brinquedos sempre acabam ficando guardados em algum baú dentro do quarto. Em alguns casos são doados para crianças carentes, mas, na maioria das vezes ficam ali, na esperança de passar de uma geração para outra, ou mesmo serem pegos pelo antigo dono, mesmo que à noite, com a luz apagada e de portas fechadas. No início pode ser uma bola, uma bicicleta. Depois, passa para um violão, computador, carro, e assim por diante. Na verdade os brinquedos nunca são abandonados, apenas a conseqüência das brincadeiras é que tem suas proporções alteradas, amplificadas.
Neste caso, o brinquedo em questão é o aparelho de som. Em algumas famílias, ter acesso ao aparelho de poderia significar: o guri está crescendo, já não houve mais os disquinhos coloridos de histórias, agora quer mais é saber do rock, até já sabe ligar sozinho.
Não deixa, claro, de ser um rito de passagem.
E começou assim, uma coletânea dos melhores momentos do Rock in Rio aqui, um compacto da Nina Hagen ali, mas lá ia o futuro ouvinte de rock tentando construir o seu acervo, passando por diversas experimentações discófilas, algumas valeriam a pena, outras, melhor esquecer.
Fatalmente chega o dia em que coloca a tocar um pesadíssimo disco de rock pauleira (sim, assim era chamado o heavy metal antigamente).
Claro, nessa estrada de escolhas musicais, vai-se ouvindo tudo, menos (mais para contrariar mesmo) o que os pais gostam de ouvir e, hora ou outra, acaba-se descobrindo que quanto mais alto, melhor.
Começa então aquele inferno. Pai batendo na porta e gritando: desliga, desliga.
Mãe saindo do banho enrolada na toalha para ver qual trator de obras da prefeitura derrubou a parede da casa.
Vizinhos, melhor nem comentar.
Chega, também fatalmente, o dia em que o guri resolve dar uma olhada nos discos dos pais. Claro, lá pelas duas da manhã para evitar a vergonha da curiosidade pela música dos velhos. Afinal, rock é rebeldia, que porcaria de rebelde seria esse que concorda com os pais? E coloca um LP dos Beatles no volume máximo.
A mãe fala para o pai:
-Vai lá e dá um jeito. Manda ele desligar esta porcaria. São duas da manhã!
-Mas, mandar desligar? Ainda mais o Rubber Soul! Aí já é sacrilégio.
E assim fica provado que os filhos são, na maioria dos casos, a causa da ruína de muitos casamentos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Questão de balanço de valores

Certa vez, em um documentário, o João Ubaldo Ribeiro falava sobre a língua, explicando que não era filólogo, não era lingüísta, era apenas um usuário da língua. Assim como não sou advogado ou jurista, mesmo que meu trabalho esteja ligado, de certa forma, à carreira jurídica. Mas como poderia dizer que sou um usuário da lei. Talvez eu esteja mais para um cumpridor da lei. Assim como também não posso dizer que eu seja um ecochato, embora carregue a sina de merecer a segunda parte do nome.
Em todo caso, na cidade em que por enquanto moro, houve um caso envolvendo mau trato a animais, mais de uma vez. Não presto mesmo muita atenção em televisão, portanto, não sei exatamente em qual canal, o âncora do jornal anunciava que o responsável pelos maus tratos responderia por crime ambiental, quer dizer, com uma pena menor, do que podemos depreender que crimes contra o meio ambiente (ou contra o ambiente inteiro) são vistos como crimes menores, embora não deixem de ser atentados contra a vida, não só contra a vida dos animais, mas também, lógico, contra a vida humana, já que obviamente os seres humanos ocupam um lugar considerável no ambiente chamado planeta terra, embora certas vezes vezes esqueçam disto ou se espalhem demais. Então, gostaria de proferir esta retórica por aqui, sem querer parecer pedante: até quando nossa relação de superioridade hierárquica com a natureza vai continuar sendo um entrave para a nossa qualidade de vida?
Quer dizer, se acusamos a religião de ter afastado o homem da natureza, acho que esta catequese surte bastante efeito, tanto que houve um congresso em kopenhagen para discutir algo realmente atrelado a esta questão. E dessa vez sim, prestei atenção ao jornal.
Claro, acho que a sociedade deveria pressionar mais as autoridades competentes (competentes no sentido da faculdade que é dada à pessoa), para que os crimes ambientais sejam tratados como crimes maiores, bem como se mobilizar mais com relação a estas questões, a fim de quebrar este círculo hierárquico arrogante e vicioso.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A malfadada língua

Como foi dito no post anterior, o inglês parece estar dominando o mundo. Não um inglês qualquer, do tipo primeiro ministro, o que também não deixa de ser bastante plausível. Mas refiro-me aqui ao idioma inglês. Sim, a língua que os beatles falavam e na maioria das vezes cantavam, que alguns reis, príncipes, mendigos (não, mendigos não), a rainha e uma ou outra ministra amiga do Pinochet e com tendências ditatoriais, mas que não é a nossa ministra, também fala, ou falava, sabe-se lá.
Para não deixar desamparada minha vasta legião de leitores desamparados, digo que o inglês é uma língua bastante parecida com o português, principalmente com o português brasileiro.
Por exemplo: "No exit" significa não hesite; "Some fotos" significa que os retratos desapareceram; "Home" é o equivalente à expressão popular-regional ômi, como em "ômi de Deus!"; "Shake" é um monarca árabe.
Agora, money é dinheiro mesmo, e esse fala. Fala várias línguas com grande fluência e maior ainda influência.
Mas, meus agora amparados leitores podem me acusar de tudo, menos de não ter inaugurado as postagens nesta nova década, e pelo menos ter tentado iniciar com mais leveza e menos pessimismo, se bem que isto pode ser apenas uma impressão.