quinta-feira, 29 de abril de 2010

Historietas parafrásticas com ou sem sentido algum

Pequenas histórias patéticas experimentais escritas com a intenção de fazer uso de certas referências unilaterais, ou a fim de provar que pode-se dizer qualquer absurdo, sem que isto pareça necessariamente um disparate, ou a fim de não provar nada, mas sim provocar.

Ruy Ibiranguó, a quem todos chamavam simplesmente de Ruy, exceto no seu emprego, onde era chamado de Ibiranguó pelos colegas, ou de "aquele incompetente" pelo chefe, e de Bira por seus parentes, exceto por aqueles que achavam que Bira era mais adequado para algum Ubirajara, e por sua mulher que chamava-o de vários nomes, dependendo da ocasião, saiu de casa para comprar cerveja, mas ao chegar no mercado percebeu que não bebia, principalmente cerveja. Então, comprou apenas um pacote de comida para gatos, deu volta para casa, mas lá chegando percebeu que não tinha gatos. Deu volta para o mercado e trocou o pacote de ração para gatos por um pacote de ração para cachorros, mas chegando em casa percebeu que não tinha cachorro. Voltou ao mercado e trocou o pacote de ração para cachorros por um pacote de sabão em pó, mas chegando em casa percebeu que mandava suas roupas para a lavanderia. Outra vez deu volta, trocou o pacote de sabão em pó por um frasco de xampu anti-caspa, mas chegando em casa lembrou que não tinha caspas. Retornou outra vez e trocou o anti-caspa por um frasco de xampu normal, mas ao chegar em casa percebeu que era careca.
Dizem que Ruy passa os dias indo da sua casa para o supermercado e do supermercado para casa, sem encontrar algo que tenha utilidade para si.

José Malafastião, a quem todos chamavam de Zé Repoulho, assim conhecido por beber muita cerveja, ou por adicionar uma letra "u" antes do dígrafo "lh" (pronunciava carvaulho, baraulho, toaulha, etc.), ou por se espeidorrar muito, ou por outro motivo desconhecido qualquer, saiu de casa para cortar o cabelo.
Chegando na barbearia perguntou ao barbeiro:
- Ô meu, quantos mango sai pra cortá as minhas melena?
O barbeiro riu. Zé Repoulho, irritado, advertiu:
- Se tu tá rindo porque não sacou qualé a minha, fico de boa. Mas se tu tá te arriando em mim vou te dar um sacode, te acertar na pança e aí tu vai ficar pregado no chão.

Marieta Ermengardina não tinha apelidos, não tinha filhos, não tinha marido, não tinha pais, não tinha avós, não tinha certidão de nascimento, não tinha corpo, não tinha alma. Era apenas o sopro de uma vaga idéia de criação na mente de um escritor qualquer.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Foto cinco


Não, esta foto não contém mensagens subliminares ou conteúdo político. Não é alguma forma de arte engajada, mas bem que poderia sinalizar algo no que se refere à corrupção.

Foto quatro


Também corresponde à descrição. Acredito que a identificação não será difícil já que tem um elemento textual que, de certa forma, prende sempre a atenção das pessoas. Gosto particularmente do tom de azul do céu e da luminosidade que um dia ensolarado de inverno oferece.

Foto três


A foto número três é a foto número três mesmo. Uma das minhas preferidas.

Foto dois

Sei que a foto número dois não corresponde àquela descrita antes, mas como tive alguns problemas de arquivo (arquivo físico mesmo), resolvi colocar por aqui uma outra, que considero bastante poética.

Foto um.


Foto já previamente descrita aqui.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Se fosse bom...

Sei que me propus à não escritura e postagem de auto-ajuda por aqui. Sei que conselhos tendem à pieguice e que os adágios populares servem apenas para justificar uma determinada atitude ou para delimitar a ação da pessoa ou de um grupo de pessoas em um contexto definido. Também sei que ando sem inspiração para escrever sobre assuntos sérios, e não saudosista a ponto de publicar algo sobre o passado, e sem perspectiva para escrever sobre algum plano futuro, e mal humorado demais para fazer qualquer tipo de humor, mesmo que bobalhão, e revoltado demais para com a política para dizer algo politicamente praticável ou crítico à respeito da situação política, e desesperado demais para dar esperança para alguém, e lógico demais para divagar, e devagar demais para acompanhar o tempo, e prostrado demais para trazer algum ânimo para quem quer que seja, e sóbrio demais para praticar a embriaguez, e ético demais para a difamação, e preguiçoso demais para a movimentação, e prosaico e objetivo demais para escrever poesia, e poético demais para fazer prosa, e solitário demais, achando que minha própria compania deu-me as costas, para fazer compania, e alegre demais para lamentações, e superficial demais para ilações profundas, e errado demais para certas coisas, e pensativo demais para a prática, e arrogante demais para pregar sobre a humildade, e auto irônico demais para levar a mim mesmo a sério, e qualquer coisa demais para tudo, exceto ao que me recuso a praticar ou pensar a respeito.
Mas, como no fim das contas, nem tudo é lamentações e muros, aqui vai uma pequena lista de conselhos que servirão ao menos para fazer o leitor sentir-se aliviado após perder tanto tempo em tão soberba e dispensável introdução:

Não seja um poeta, seja o poema.
Venda o carro e compre um guarda-chuva.
Case e leve a noiva para a lua-de-mel de bicicleta.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Armadilhas da baixa tecnologia

Existem vários tipos de conservadores. Aqueles que se agarram a valores antigos e rejeitam a evolução e o avanço natural dos padrões estéticos, de comportamento, ou ambos. Aqueles que se negam a ter aparelhos de disco laser e que acabaram sendo substituidos pelos que se recusam a ouvir MP3. Há os que dizem que bons tempos eram aqueles em que tínhamos palmatória nos colégios. Os que acham que a internet não serve para nada. Claro, sem falar nos que votam sempre no mesmo partido ou candidatos, se bem que isso já é outra pauta e não deverá ser tratado aqui este assunto. Enfim, todos aqueles que dizem: bom mesmo é do jeito antigo. Mas há também aqueles que por ingenuidade, convicção ou mesmo puro deslumbramento, como eu, se apegam à baixa tecnologia e compram máquinas fotográficas com filme (as ditas máquinas analógicas), que não têm saída para cabo USB, e que a cada vez que procuram um filme fotográfico, especialmente preto e branco, são olhados com um certo ar de desdém combinado com comiseração pelos funcionários de casas fotográficas, que ficam de boca aberta quando você chega entra na loja, pergunta quanto custa a reveleção e tira da mochila um rolo de filme, ao invés de tirar um CD ou um daqueles pen-drive (acho que a tradução mais aproximada seria motorista doloroso).
Mas, justamente o que queria dizer é que comprei, já faz aproximadamente um ano, uma câmera que possui justamente todos os requisitos de baixa tecnologia: fotografias levemente desfocadas, dificuldade de enquadramento, ou seja, um verdadeiro exercício para o olho do fotógrafo, já que a fotografia é também um exercício que exige repetição. Claro, além de diversas outras exigências sobre as quais meu repertório não permite grandes divagações, ou talvez eu simplesmente não esteja com a paciência necessária para tanto.
A grande desvantagem de tal máquina é não permitir a digitalização direta (ou seja, passar as fotos direto da câmera para o computador), fazendo com que tenha-se que usar um método intermediário para colocá-las no meio digital.
Eu gostaria mesmo de postar minhas fotos aqui, e quase todos para quem eu falei a respeito das fotografias disseram que eu deveria fazê-lo. Então, para satisfazer a curiosidade dos leitores e para seguir a orientação dos que me aconselharam a colocar as fotos aqui no blog, não vejo alternativa, a não ser descrever algumas delas, para que possam ter uma ideia do que se trata.
Foto número um:
Uma calçada retratada obliquamente, com um muro do lado esquero, do qual aparece apenas um pilar e uma rachadura na base, entre a calçada e um de seus detalhes ornamentais. À frente vê-se um poste e uma pessoa de mochila entre o poste e o muro.
À esquerda pode-se ver algumas árvores, mas não dá para saber (já que o ângulo da foto não permite) se o dia está nublado ou ensolarado, mas a julgar pela luminosidade, pode-se supor que se trata de um dia de sol.
Foto número dois:
Uma imagem desfocada em tom predominantemente cinza, do que parece ser uma floresta, mas que por pertencer a uma série de fotografias urbanas supõe-se que seja o parque da redenção.
Foto número três:
Vários riscos luminosos vermelhos, alaranjados e brancos. O que nos leva a crer que seja uma fotografia tirada à noite com o obturador da máquina em posição B e aberto durante uns vinte e cinco segundos.
Foto número quatro:
Céu azul em um tom saturado, um semáforo ligado através de uma haste de metal que se curva para a direita com uma placa pendurada logo ao lado da sinaleira, que diz: nunca (em letras maiúsculas e grifado em vermelho) tranque o cruzamento. O semáforo está vermelho.
Foto número cinco:
Uma faixa amarela ao lado de um enorme "pare" escrito em letras brancas, já um pouco desgastadas, sobre o asfalto cinza.

Por enquanto são estas as fotografias que tenho a publicar aqui. Em breve publicarei mais algumas. Ainda não decidi se através de imagens propriamente, ou de narração de imagens.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Evoluindo

Há os que dizem que a evolução se dá ao acaso. Outros dizem que não, que a teoria de Darwin não era exatamente assim, mas leigamente fico pensando no que é e como isto foi acontecer. Como descemos das árvores, como saímos das cavernas para conquistar o espaço? Claro, pelo menos o espaço do mundo, que encurtou, já que quanto ao espaço sideral ainda tenho cá minhas dúvidas. Para Darwin uma das chaves para a evolução, se não a principal, é a necessidade de adaptação, mas o que realmente leva à necessidade de adaptção é o medo. Se eu pudesse eleger algo como chave para acionar o mecanismo da evolução escolheria o medo.
O medo nos acompanha desde sempre. O medo da fome nos fez descer das árvores. O medo do frio nos fez dominar o fogo. O medo do sobrenatural nos fez inventar as religiões. O medo da natureza nos fez inventar a ciência. O medo de viajar fez com que criássemos fazendas. Deixamos de ser nômades. Com medo das feras criamos a faca e a lança. O medo da invasão nos levou a criar a cerca. O medo da doença nos levou a criar a medicina, o medo das ideias nos levou a criar a guilhotina. O medo do tédio nos levou à invenção. O medo de perder o grande amor nos leva a viajar e a enfrentar o próprio medo. Talvez com medo da solidão tenhamos inventado o amor. E com medo de tudo inventamos uma explicação. O medo do esquecimento nos fez criar a arte e a literatura, que agem onde a memória falha, e às vezes são memórias melhores que a própria memória.
Não fosse o medo não teríamos os heróis, que avançaram aproveitando as oportunidades perdidas pelos covardes que recuaram.
Não se enganem, a verdadeira força motriz da humanidade é o medo.