sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Retrospectiva do governo Sartori, ou a culpabilidade alheia

Sartori assina um decreto com previsão de cortes de gastos no governo, por isso, dentre as medidas adotadas estava a suspensão da nomeação dos concursados. A culpa é do Tarso.

Dias depois, Sartori sanciona o aumento do próprio salário e dos deputados. Tarso era o culpado.
Compra de lençóis de cetim para o Palácio das Hortênsias, afinal, um bom piadista precisa de um bom local de repouso. Culpa do Tarso.

A seguir, Sartori afirma que vai atrasar o pagamento dos servidores. Novamente havia dedo do Tarso.
Logo depois, Sartori dá uma pedalada (essa não resultou em pedido de impeachment) na dívida do estado com a União, alegando que era para pagar os funcionários do estado. Tarso era novamente o responsável.

Com os salários atrasados, o evidente prejuízo para setores e serviços essenciais para a população, todavia considerados dispensáveis para o governador, como saúde e educação ficam  prejudicados, o estado entra em um caos e a segurança nunca esteve tão ruim. Alguns alegam que o Tarso fora visto esfregando as mãos, com um sorriso irônico e maquiavélico no rosto, afinal, a culpa era toda dele.

A Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul sofre ameaça de fechamento. Pra variar, Tarso novamente tinha culpa.

Em seguida, novo parcelamento de Salários de servidores, mais prejuízo em serviços como segurança, saúde e educação. A criminalidade atinge níveis absurdos no estado, e alguns gaúchos já começavam a amaldiçoar até a quita geração do Tarso, por tamanha falta de compaixão.

Sartori entra com uma liminar pedindo desbloqueio das contas do estado pela União, resultado do acordo da dívida firmado em 1998 pelo governador Antonio Brito e endossado pelo então líder do governo na assembléia, José Ivo Satori, mas por culpa do Tarso.

Aumento do ICMS no estado, com voto de minerva do deputado Jardel e culpa do Tarso.

Agora, um ano e pouco depois da posse, existe a ameaça de exoneração dos funcionários concursados, além da não nomeação dos aprovados em outros concursos. Algumas fontes indicam que talvez a culpa seja do Tarso.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Guia prático de etiqueta para o protesto domingueiro

Pois é, caros leitores. Depois de muito tempo de ócio, gostaria não só de escrever, como também de publicar aqui um texto que combinasse utilidade pública e consciência política, para tirar este humilde espaço do ostracismo. Não consegui o que queria. Por isso resolvi lançar o Guia Prático de Etiqueta para Protestar Contra o Governo e os Governantes.
- Use e abuse das cores da bandeira. Verde e amarelo à toda. Azul e branco também, mesmo não dando tanto destaque. O que vem a ser uma boa dica para aqueles que preferem ser mais discretos.
- Cante o hino, e com a mão no peito especialmente estufado na hora do "pátria amada...". Afinal, nem só de consciência política vive a rapaziada. Também tem o sentimento de nacionalismo latente, verdejante e amarelante. Azulante e brancante também, só que em menor escala.
- Usar roupa vermelha está proibido.
- Faça associações abstratas entre Cuba e paraíso, afinal de contas, pode haver vários psicólogos protestando também, e essa obsessão por aquele simpático país merece ser investigada por um profissional competente.
- Abuse das selfies, caprichando nas legendas super expressivas, do tipo "fazendo a minha parte", "também estou indignado", enfim...
- Use e abuse do nariz de palhaço. Essa é a melhor forma de ser levado á sério.
- Não discuta com os que têm argumentos melhores do que os seus. É a melhor forma de perder a discussão e tirar a credibilidade do movimento, Prefira antes berrar e bradar,"Vá pra Cuba, lá é que deve ser o paraíso..." Este é o argumento definitivo.
- A música Eu te amo, meu Brasil, de Dom e Ravel, pode ser o segundo grande hit depois do próprio hino nacional. Geraldo Vandré, Pablo Milanes, Victor Jara e Violeta Parra nem pensar.
- Diga-se apartidário, mesmo centralizando todos os ataques em um único partido. Afinal, nem só de camisa da CBF e de hino nacional vive o bom protesto. Há também a coerência.
- Não se reprima, não se reprima uou, uou, uou, uou.
- E lembre-se de se divertir. Afinal, de que vale tirar toda essa parafernalha de casa, se não for divertido? E no fim das contas, não é tudo uma grande piada?

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Nosso nível de estupidez subiu bastante, ou somente os intolerantes serão tolerados

Este humilde pretensioso candidato a escritor aqui sabe que abandonou e deixou órfã sua legião de aproximadamente doze leitores assíduos e nem tanto fiéis, e sabe também do cliché que representa retomar as atividades blogueiras justamente em época de eleição, mas temos que admitir que anos eleitorais são particularmente reveladores, no sentido de que descobrimos novas tendências de pensamento  presentes em certas pessoas, da mesma maneira que descobrimos tendências de pensamentos estranhos e comuns, ou estranhamente comuns, ou ainda comumente estranhos na maioria delas, o que fica bem provado, comprovado e laboratoriado nas chamadas redes sociais, as quais obviamente não deixam de servir de termômetro para avaliar o pensamento da rapaziada, da direita da esquerda ou da onda.
Esta enrolação toda serve como introito a algo que tenho a dizer, e que vem há tempos perturbando minha mente, e que dela se apossou após este despretensioso pretenso escritor ter assistido a um vídeo da passeata organizada pelos camaradas da direita. Sim! Os camaradinhas da direita, os sujeitos que andam de carrões importados, vivem em coberturas, vão a lugares bem frequentados (sic), enfim, nossa nata social (acho o termo nata social bastante adequado neste caso, pois nata entope as artérias e faz mal ao coração, segundo me consta, mas isso é outra conversa e outra milonga). O fato é que a tal da passeata consistia em uma manifestação do tipo "fora PT", fora o partido político, reivindicando, dentre outras coisas, a autoria dos programas sociais do atual governo, no qual, por sinal, este simpático escritor jamais votou.
Mas voltemos ao passado, não a um passado muito distante, mas sim ao passado em que eu ainda era um militante do movimento estudantil, nos tempos de segundo grau. Fazíamos passeatas por diversos motivos na época: contra a privatização das escolas técnicas, contra o voto paritário nas eleições para diretor da escola que frequentávamos. Éramos ingênuos, acreditávamos na possibilidade de reverter uma decisão do MEC. Organizávamos movimentos, em pleno governo PSDB, ainda com a população receosa da ditadura, ainda com a população esperançosa com o então recém criado plano real, ainda com a população falando em redemocratização e traição pelo presidente Collor, ainda com a população acreditando que o futuro ex-presidente Lula seria o salvador não apenas do país, como, de alguma forma, de toda a América Latina, e ainda com o medo da recessão que rondava o país, ainda no governo Fernando Henrique. Organizamos, todavia, os mais diversos tipos de passeatas, com os mais diversos temas, mas nunca pedindo especificamente a expulsão de um partido, achávamos, mesmo em toda a nossa ingenuidade de políticos pueris, que isso seria uma tremenda estupidez, pois tínhamos em vista o combate político, não o combate às pessoas, não o combate a um partido. E agora, com a possibilidade de eleição de um presidente do PSDB nos rondando, com a provável vitória, no governo do estado do Rio Grande do Sul, de um piadista que parece sempre impossibilitado de falar abertamente sobre suas propostas, mas que, apesar de sua impossibilidade neste campo, não raro consegue tirar da cartola uma piada, num rompante de diarreia verbal, como no caso de seu famigerado comentário a respeito do piso dos professores (instituído por lei federal, diga-se logo), vemos que as pessoas capazes de apoiar tais candidatos são infinitamente mais assustadoras do que qualquer política que tais candidatos possam implementar no Brasil, e, neste caso, esta parcela da população, que se sente representada por eles, e que também é capaz de organizar uma passeata para a contra-senso do que os próprios manifestante dizem, reivindicar direito e liberdade de expressão que alegam terem sido roubados pelos quatro últimos governos, e esse mote faz, sim, com que tal manifestação seja vergonhosa, da mesma forma que é vergonhoso o discurso comum dessa direita rançosa de que os ganhos de direito de determinado grupo constituem perda de direitos para essa elite, como alegam a respeito das cotas nas universidades, casamento igualitário, aborto e legalização das drogas.
Digamos, então, que, mesmo não sendo este autor renitente um militante do partido da situação, tendo inclusive votado em outro candidato no primeiro turno, é imprescindível não eleger o Aécio Neves para o governo federal, da mesma forma que é imprescindível não eleger o Sartori para o governo do estado do Rio Grande do Sul, mesmo que esses candidatos não representem alguma mudança política substancial, e acredito que de fato, não teremos grandes avanços com qualquer candidato que vença as eleições, petistas ou não. Mas é imprescindível não elegê-los pelo simples fato de que a maior parte dos que se sentem representados por ele constituem uma das camadas mais intolerantes, preconceituosas e ignorantes da sociedade, os que usam sua autoridade e posição social como argumento para vencer discussões, os que defendem a intervenção militar, enfim, os que negam direitos mínimos aos que não têm. A política petista difere da política tucana? Em grande parte não. Há anos isso não acontece, mas da forma como vejo as coisas hoje, deixar a elite preconceituosa e reacionária estar representada nos governos federal e estadual será um tremendo retrocesso, ainda mais depois da bancada conservadora já eleita no primeiro turno.

domingo, 9 de março de 2014

Previsão de memória

Não faço previsões. Acredito que a memória fica cada vez mais comprida, não sei se menos confiável, mas acaba ocupando mais espaço, feito um arquivo de gavetas muito compridas, no qual temos que esticar um bocado o braço para alcançar a última ficha. Sei que neste ano muitos farão homenagens ao Senna e ao cara do Nirvana, mas gosto mesmo de lembrar que há vinte anos, a Noeli, quando dava aulas de violão ao grupo que chamava de orfeonistas, e do qual eu orgulhosamente fazia parte, já que foi o que considero ter sido a minha primeira banda, em um final de tarde absurdamente frio, entre o fim do turno da tarde e o início do turno da noite, conseguiu reunir os que faziam parte daquele grupo, para ler poemas do Quintana, em uma homenagem dela e nossa ao poeta que acabava de partir. Também há vinte anos meu pai chegou em casa com um livro de poesias do Paulo Mendes Campos, Domingo Azul do Mar. Não era a primeira vez que eu lia Paulo Mendes Campos, mas era a primeira vez que eu lia os poemas do Paulo Mendes Campos, e mais ainda: a primeira vez que lia poesia com atenção. Creio que gastei o livro de tanto ler, e memorizei boa parte dele. Talvez por isso mesmo tenha alocado esses poemas em uma parte bem da frente do meu arquivo. Mas a verdade é que foram essas duas coisas que acabaram, naquele ano cheio de acontecimentos, fazendo a verdadeira revolução na minha cabeça.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Nossos médicos estão realmente preocupados com a saúde. Especialmente com a saúde de suas carteiras

Ainda podemos ouvir algum eco dos protestos da classe médica contra a vinda dos médicos cubanos para o Brasil, trazidos por um programa do governo federal. O deplorável protestos das médicas recém formadas que proferiram ofensas contra os cubanos, o inimaginável, medonho e indigno pronunciamento do presidente de um dos conselhos regionais de medicina, recomendando que os médicos locais não atendessem aos "erros" dos médicos estrangeiros.
Claro que sei que os médicos são demais, que estudam até a deformidade do traseiro sentado na cadeira, fazendo cursinho pago pelo pai, geralmente médico também, já que eles parecem se preocupar em fundar uma dinastia de médicos, e que os estudantes de medicina são aqueles que pregam os trotes mais medonhos nos calouros de seu curso.
Creio que seria algo correto e sensato valorizar a profissão pelo papel social, não por seu prestígio, e isso parece que vem sendo um grande problema para os médicos. Não apenas para os médicos, mas para que precisa de um deles, afinal de contas.
Pode parecer tarde, aliás, mas eu gostaria de mandar meus sinceros agradecimentos à simpática médica, cujo nome ignoro, a respeito da qual sei apenas que trabalha na emergência da Santa Casa de Porto Alegre, e que em abril, quando fui parar lá por causa de uma intoxicação alimentar, com 39 graus de febre, para quem perguntei onde poderia pagar os R$ 140,00 do atendimento, mas que não foi capaz olhar para mim, muito menos de apontar o indicador de ser humano superior, para mostrar o local onde eu deveria fazer o pagamento, preferindo simplesmente ignorar que eu lhe fizera uma pergunta. Muito obrigado, dona médica, você realmente me enche de fé e renova minha simpatia por essa categoria tão humanitária e desapegada dos bens materiais. Creio que o principal papel dos médicos brasileiros seja mesmo reacender a fé nas pessoas, já que quando precisamos de um, parece que o melhor a fazer mesmo é rezar.

domingo, 27 de outubro de 2013

Mundial no mundo.

A cidade recebeu o mundial de atletismo. Daí que podemos ver por aí dezenas de pessoas a circular com agasalhos esportivos cheios de bandeiras de países diversos, falando idiomas diversos e aparentando aparências diversas, sem saber como tomar um ônibus ou um táxi, desorientados com a falta de informação. Sua presença não deixa, contudo, de proporcionar um interessante espetáculo.
De que países são as pessoas que por aqui estão?
De vários países e nacionalidades. Vieram peruanos, bolivianos, chilenos, angolanos, irlandeses, paquistaneses, birmaneses, ingleses, portugueses, finlandeses, estonianos, laponianos, estadosunidenses, japoneses, vietnamitas, coreanos do norte e do sul, suecos, iraquianos, turcos, vaticanenses, argentinos, uruguaios, malteses, escoceses, congoleses, tiroleses, africanos do sul e do norte, russos, sérvios, argelinos, australianos, austríacos, butaneses, croatas, cubanos, venezuelanos, equatorianos, mexicanos, haitianos, micronésios, caledonianos, macedônios e  franceses. Vieram, também, pessoas de países que achávamos que não existiam, como egípcios do novo e do antigo Egito, incas terrenos e venusianos, maias, astecas, bolivarianos, búlgaros e tanzânianos, quer dizer, tanzanenses... tanzãos... enfim, pessoas que nasceram na Tanzânia, e os persas. Enfim, de todos os lugares que podemos citar para exercitar nosso conhecimento do index mundi.
E brasileiros? Os brasileiros estão por aí?
Não rimavam com nada e resolveram ficar em casa. 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Não para tanto, mas também não para nada mais

Agora que temos evangélicos, embora eu preferisse dizer religiosos de um modo geral, mas já que a situação está assustadoramente polarizada e, mesmo que seja eu um defensor da liberdade de culto e do livre pensamento, e aí incluo o direito à liberdade de expressão religiosa, pois esta, para mim traduz nada mais do que um pensamento, uma corrente filosófica, digo que inevitavelmente fico assustado com a possibilidade, com o vislumbre de uma tomada evangélica do poder, numa ascensão dada por algum meio obscuro, embora declaradamente popular.
Imagino um estado cujo poder é exercido por esta "classe". Que tipo de leis teríamos, quais exigências teríamos de cumprir, seríamos tributados? Aqueles que assumissem o poder, exerceriam-no de forma democrática, ou existiria um ditador supremo, vitalício, mantido no poder pela força do medo, com seu exército de lacaios comprados por sua ignorância?
Após essa série de questionamentos, proponho que realizemos algumas imagens:
No fim do mês o contracheque terá, no campo de descontos, além do imposto de renda, do FGTS, do INSS, do vale-transporte, do convênio médico, haverá uma referência a um desconto de 10% a título de dízimo ao ditador supremo vitalício.
Haverá uma espécie de toque de recolher para orações, de tempos em tempos, quando provavelmente prestaremos reverência a um enorme televisor, o qual a essa altura já terá regredido a um aparelho valvulado, de tubo, de vinte polegadas, com aqueles botões giratórios enormes para trocar de canal, embora  todos os canais transmitirão exatamente a mesma programação. E a programação de oração transmitida não  será celebrada por um sacerdote ante um altar, mas sim por um sujeito de paletó, gravata e camisa branca, todo suado, esbravejando e proferindo discursos cujas inflexões seriam a mesma de um apresentador dos piores programas de auditório.
Os discursos do orador serão carregados de ódio contra os contrários, mas sempre com a devida justificativa embasada por uma visão distorcida, adaptada e tendenciosa de uma passagem bíblica.
Seriam banidos da sociedade músicas, alimentos, bebidas e cores que contrariem a boa vontade do ditador supremo.
A população faria votos de austeridade, de consumo, mas principalmente de pensamento, enquanto o supremo ditador permaneceria sentado em um mansão com dezessete piscinas;
Talvez não fosse muito diferente de hoje, mas pensar seria um hábito fortemente reprimido pelo ditador.
Claro, uma enorme parcela da população apoiará e ainda fará comparações com os heróis bíblicos, e todas as disposições e pensamentos contrários seriam considerados crimes, passíveis de punições pesadas e cruéis.
Felizmente todas essas possibilidades não passam de mero produto da imaginação de um sujeito que despende um bocado de esforço, intelectual ou nem tanto, para proporcionar um pouco de diversão aos leitores, mas se realmente acontecesse esse golpe, borrar-me-ia todo.