quinta-feira, 28 de maio de 2009

Coisas que não entendo I: o sistema

Gostaria, mas gostaria muito mesmo que alguém, em um momento de iluminação criativa, me explicasse o que é o sistema.
Que insondável mistério é esse que ronda a todos nós, a que estranhos poderes ele serve, cujos desejos se confundem com o mal, e que, entratanto, sempre faz o bem?
Parece que há, em algum lugar do universo, alguém que dá ordens para pessoas que não sabem exatamente o que lhes foi ordenado, mas que devem segui-las, lógico, para que não se tornem vítimas do sistema, essa barreira virtual que nos impede de fazer algo simples do modo mais fácil.É menos complexo explicar o que é Deus do que explicar o que é essa barreira.
Você é rejeitado por estar fora de um determinado padrão e a culpa é atribuída ao sistema. Você tenta usar o computador, ele reaje mal e logo aparece uma mensagem dizendo: falha no sistema. Pessoas consomem mais alimentos transgênicos, embora haja nas portas das suas casas, ou a algumas quadras de distância, uma pequena feira ecológica e quando você pergunta a uma delas por que fazem isto, elas respondem: é o sistema, estou adaptado.
Mas não é só isso, parece que em algum ponto do desenvolvimento começamos também a trabalhar pelo sistema, policiando o nosso vizinho, nosso colega de trabalho, passando a exercer a função de cão de guarda leal, zelando pelos bens daqueles que estão sentando no topo de uma cadeia da qual não conhecemos os elos.
O mais curioso disso tudo é que alguns dizem que o Orwell profetizava a falência do sistema e que suas críticas mais duras eram dirigidas ao socialismo. Já eu acho que não. Acredito que Orwell profetizava a falência do indivíduo frente ao sistema.
Nunca fui dado a endossar teorias da conspiração, mas desse jeito está ficando difícil. Em breve estarei acumulando em casa milhares de cópias do apanhador no campo de centeio. Mas, caso alguém tenha alguma explicação para me dar a respeito disso eu aceito. Pensando melhor não aceito explicação nenhuma, afinal, tenho medo de me tornar mais uma vítima do sistema.

Motivo para comemoração

Sim, adicionei o mapinha neste blog e agora já tenho um motivo para comemorar. Três leitores e um número que indica mais ou menos uns quarenta visitantes (embora eu acredite que as visitas estejam divididas entre os três).
Então, para comemorar o número que extrapola minhas expectativas com este blog, nada melhor que um texto novinho em folha, saído do lugar mais obscuro de minha mente, falando sobre coisa alguma, ou melhor, falando a respeito de algo: o mapinha, meus três leitores e os mais ou menos quarenta supostos visitantes. Isto me leva a pensar que se eu escrevesse um livro, algo verdadeiro, feito de papel, com impressão em tinta, será que teria quarenta compradores? Um bom número, mas que não o tornaria um best seller. Afinal, o que faz de um best seller um best seller, a legitimação através da grande aceitação por um público leitor, a quantidade de entrevistas concedidas pelo autor?
De qualquer maneira, bom mesmo é comemorar a impressionante marca atingida, com direito a três pessoas que a internet chama de seguidores, o que me deixa com boas esperanças, pois, caso não dê certo o negócio de livros posso tentar formar uma seita, pelo menos teria três loucos para me seguir, ou para cair fora na hora h.

Dizem por aí, mas bem que pode não ser verdade

Outro dia fui atacado por uma pessoa que dizia que o tempo não existe, o tempo é criação do homem, o tempo isso, o tempo aquilo...
Tudo bem, o tempo pode até não existir, eu não entendo muito da teoria da relatividade mesmo. Não sou formado em física ou em astronomia e a melhor explicação que posso dar sobre o tempo é a seguinte: fiz uma viagem, levei um aparelho de MP3 que não era meu. Lá dentro havia apenas esses grupos de pagode com cantores chorões-risonhos. Quer dizer, essas aberrações com duzentos músicos que tocam a mesma coisa. A viagem que deveria durar três horas pareceu-me durar três meses ou três anos, e nem cheguei a passar da faixa um. Acabei desligando o aparelho e resolvi prestar atenção na paisagem, mas era noite e não dava para ver nada. Pensei em ler um livro, mas a estrada estava toda esburacada. Não consegui passar de dez páginas. Para mim estava provada a teoria da relatividade, pelo menos acho que estava.
Pus-me, então, a divagar acerca do tempo. Sem ele, nada existiria, tudo seria instantâneo. Logo, se o tempo não existe, como explicar que existam pessoas que trabalham, correm e passam toda a vida em função dele, como os relojoeiros? O Big Ben é uma grande farsa? Seria o tempo algo somente da competência dos meteorologistas?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

É possível perseguir um sonho?

Não assisto muita televisão, admito. Mas, se eu vi, muitos que não tiram o rabo da poltrona da sala devem ter visto também: a feiosa cantora da Escócia de voz angelical.
Sim, sua voz é muito doce, concordo. É afinada, concordo.
Mas não concordo mesmo é com o bombardeio de conselhos baratos de auto-ajuda: olha só, como uma pessoa tão feia pode cantar tão bem, conseqüentemente isto significa que a pessoa que tem um sonho deve ir atrás dele.
Particularmente acho uma grande humilhação, para aquela senhora e para o público.
Vou explicar. Não há nada demais no fato da moça cantar bem, afinal há uma lista interminável de cantoras feias.
A triste realidade é que, se a pessoa não tem aptidão para fazer algo, melhor mesmo é não fazer aquilo para o que não se está apto. Quer dizer, é simples, a cantora apenas possui essa condição, é genético, é favorecida por suas cordas vocais. Não está perseguindo algo impossível, não está tirando leite de pedra ou abrindo caminho pelo mar morto.
Sabe, é difícil se desviar deste tipo de propaganda, parece mesmo que temos uma certa empatia com as pessoas que passam por dificuldades e acabam chegando em algum lugar apesar de tudo, mas não concordo com a idéia de que todo mundo pode o que quiser, porque isto até fica muito bonito em livros de auto-ajuda, dá esperança, mas todos têm seus limites. Mas claro, a cobertura do fato dá uma pieguice insuportável à história.
O melhor conselho que eu poderia dar aqui (já escrevendo auto-ajuda), não seria para usar filtro solar, acreditar apesar de tudo ou ir atrás disto ou daquilo, mas sim, para de ver esse tipo de programação e concentrar-se em algo melhor.
O mais estranho nisto tudo é que li em algum lugar que querem fazer um filme sobre a história da escocesa. Quem fará o papel, a Julia Roberts?
Pô, será que querem nos tomar a todo custo o direito à desilusão?

Vantagens de se ter um tradutor na página

Algo que me deixou muito intrigado nos últimos dias foi esse tradutor que instalei neste blog. Agora posso ler as besteiras que digo em idiomas com os quais nunca pensei que fosse esbarrar.
Pode-se falar besteira adoidado e, mesmo assim, acionar o tradutor e pronto, em espanhol, italiano, árabe, inglês, catalão, tcheco, alemão, indonesiano (que deve ser a língua que se fala na India, ou a língua que os indígenas falam) e outros tantos.
O mais impressionante de tudo é que, por maior que seja a besteira que esteja dizendo, o tradutor faz com que pareça a coisa mais inteligente do mundo.
Não sei se é só comigo que acontence, mas seleciono o espanhol e pronto, automaticamente penso que estou lendo uma história do Quino (tudo bem, a maioria tem pouco ou nenhum texto, mas é espanhol mesmo assim, pô).
Só falta agora aparecer um programa que faça traduções do português para o português ou então eu passo a escrever em espanhol ou inglês e solicitar a tradução para ver o que acontece. É de se pensar. O que aconteceria, o cérebro virtual entraria em colapso? Receberia eu uma advertência por email para não fazer mais esse tipo de coisa? Apareceria alguém que leu este texto e para pensar "como pode haver um sujeito tão maldoso"?
Por via das dúvidas continuarei a escrever em português, por enquanto...

Envelhecer é preciso, ser imparcial também

Fui comprar uma passagem em uma agência de viagens. Havia lá uma moça muito mal humorada, um computador lentamente conectado ao sistema de vendas, uma idosa senhora que queria comprar, com três meses de antecedência, uma passagem para uma cidade fora do estado e eu. Eu objetivo, decidido a fazer o que tinha de fazer o mais rápido possível e a idosa argumentando com a moça que trabalhava lá:
- Mas por que não posso comprar a passagem agora?
- Nós vendemos passagem com um mês de antecedência no máximo?
- Mas vou viajar dentro de três meses. Quero comprar agora.
- Trinta dias.
- Mas você acabou de dizer um mês. Minha filha e meus netos me esperam.
- Se podem esperar três meses, podem esperar que a sehora volte aqui dentro de dois meses.
- O que, agora são dois meses?
Fui embora sem comprar minha passagem com antecedência de um dia. Acho que se ficase mais tempo ali, meu pedido teria fritado o cérebro da impaciente vendedora de passagens.
Envelhecer deve ser assim. Não ter muito o que fazer, além de visitar os parentes em uma viagem programada com três meses de antecedência. O pior é que, de alguma estranha maneira, isto tinha me parecido engraçado na hora: a vontade de dar um chute na bunda da velha, expulsá-la da agência dizendo que a minha compra era mais importante ou dar um soco no balcão de vendas e dizer para a vendedora: explica direito sua vaca.
Realmente a imparcialidade é algo especial.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Modesta proposta para evitar que a reforma ortográfica se torne um fardo para nós ou para o país

E não tem como não voltar ao assunto: a maldita reforma ortográfica. Parece que, além de servir de escopo para o joguinho de dizer letra por letra naquele programa televisivo, serviu, também, para aguçar o senso criativo deste profano aqui.
Ainda há muita gente discutindo como vai ficar, como vou escrever, como será, será mesmo a unificação da língua portuguesa?
Justamente, já que os propósitos ainda não estão bem explicados, e mesmo que um tanto tardiamente, resolvo lançar a seguinte proposta de reforma gramatical, afinal, já que a coisa toda parece realmente uma bagunça, também quero a minha fatia dessa torta que vai dar direto na cara do palhaço:
Fica suprimido o "h". Escreveremos omem, onesto, abitação e assim por diante. Afinal de contas, se não soa, para que escrever.
As representações gráficas dos fonemas passam a expressar tao-somente o som original. Quer dizer: "z" tem som de "z", "s" soa como "s" e "c" tem som de "c", o que nos leva automaticamente a suprimir o "q", já que este também tem som de "c", o "ç", já que tem som de "s" e os dois "s", já que estes parecem mesmo valer por um só.
Os adjetivos sempre precederão os substantivos. Exemplo: bonita mulher, quente dia, pensativo charuto.
Esta última pode até não dar certo. Mas, se deslocarmos os adjetivos, como ficarão poéticos os nossos diálogos.
Os pronomes retos, quando houver verbo, serão eliminados, já que a pessoa está marcada na terminação verbal, a menos que o verbo seja impessoal. Mas exceptua-se desta nova regra casos como o diálogo que segue:

-Quem pegou o dinheiro que estava aqui?
-Eu, quer dizer, ele.

Agora, acho que isso pode dar mesmo pano para a manga, mas estou tão resoluto e receptivo ao debate que não aceito críticas e nem admito perguntas a respeito desta nova proposta de gramática e qualquer comentário contrário será sumariamente eliminado.
No fim das contas fico pensando: tragam-me o atestado de sanidade mental do Qorpo Santo que eu assino embaixo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Bom mesmo é extrair os dentes

Passei por uma extração de dente. Não, na verdade foram duas extrações em um único pacote. Depois de muito pensar sobre como manter a calma na cadeira que geralmente é associada a uma cadeira de tortura, lembrei de um texto que um amigo publicara ao fazer uma cirurgia na vesícula, no qual dizia ter ficado muito tranqüilo porque o médico era fã de Bob Dylan e sempre podemos confiar em um fã de Bob Dylan.
A primeira pergunta que fiz ao dentista foi:
- O que você acha do Dylan?
Ele me respondeu:
- Dylan é um verdadeiro babaca. A única coisa boa são as gravações dos Byrds. A menos que você se refira ao Dylan Thomas...
Foi o que me tranqüilizou. Sempre podemos confiar em alguém que não gosta do Bob Dylan. Mas, se o dentista achasse-o mais ou menos, eu sairia disparando pela porta assim que ele virasse para calçar as luvas cirúrgicas, apesar de eu ser fã do bardo.
Ah, mas que droga. Este texto deveria ser sobre a extração dos dentes. O que tenho a dizer sobre isso é que acabamos realizando os sonhos de criança: comer bastante sorvete e ficar em casa lendo Ardil 22, ou outro livro qualquer que casualmente tenhamos começado antes da criurgia.

Um sujeito bem humorado

Dizem por aí que sou um cara mal humorado. Por quê? Só poque quando vou ao supermercado e tocam músicas ruins tenho vontade de quebrar os alto-falantes? Porque tenho vontade de chutar a bunda daqueles que gostam de trancar as filas? Porque tenho vontade de queimar os livros que vendem felicidade através de frases de sabedoria barata? Ou porque não gosto de cantores chorões-risonhos?
Não. Acho que me chamam de mal humorado porque acredito que gosto se discute. Porque não acredito na liberdade cerceada. Nessa liberdade que dizem por aí que temos, mas que não passa de uma imposição, imposição de uma maioria, infelizmente, mas imposição mesmo assim. Nas possíveis escolhas apresentadas para nós. Nessa anti-democracia, nessa falsa diversidade que anda solta e é alardeada por pseudo-intelectuais, mas que não passam de mais uma forma de podar as escolhas individuais.
Hoje um sujeito escutava algo que dizem ser música em seu carro enquanto eu ia para casa após o trabalho. É algo fundamental, o mau gosto da pessoa é proporcional à potência do som.
É como se alguém dissesse: olha, podes fazer o que gostas, mas eis a lista do que gostas...
Por que se vê tanto lixo circulando? Livros ruins, música ruim, programas de televisão.
Se democracia é seguir o que um grande número de pessoas pretende fazer prefiro seguir a minha auto-ditadura, com os dentes cerrados e a testa franzida. Sigamos, então, o caminho dificil, o caminho dos que têm vontade de derrubar os auto-falantes dos supermercados.
O Bukowski dizia: "...dê merda para eles e comerão". Acho que está na hora de andar pelas ruas de colherinha em punho.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sagradas famílias

Nesta época de escândalos e uso indevido de passagens no congresso, este profano aqui ainda consegue ficar chocado com políticos que mandam as famílias para passear na Europa sob o pretexto de que família é algo sagrado.
Então, acredito que devemos fundar um movimento em prol das sagradas famílias, reivindicando uso de cotas do imposto de renda, IPI, IPVA, ITCD, e tantos I alguma coisa quanto for possível, afinal, minha mãe sempre quis conhecer as catedrais do velho mundo. No fim das contas acho que nem seria um movimento tão revolucionário e que exigisse tanto esforço assim, a única mudança perceptível seria o destinatário dos benefícios do dinheiro público.
Claro, ainda existem trouxas que protestam contra o mau uso do dinheiro público, mas eu não. Eu aprendi, é por isso que se chama dinheiro público, para ser usado como melhor aprouver por nossos políticos. Se assim não fosse, o dinheiro seria privado e voltaríamos a protestar como na época das privatizações daquele outro presidente (aquele, cujo nome esqueci, cuja tese li, mas ateei fogo). O caso não é que existam políticos desonestos no país, mas sim políticos incompreendidos. Imaginem só, tantas reclamações a respeito da falta dos valores antigos, do respeito pelos mais velhos, blá-blá-blá... e nós aqui criticando toda essa boa gente que só quer zelar pela família, levando suas peruas emplumadas para fazer compras em Miami ou para ver o Louvre.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Inaugurando

Para inaugurar este blog, nada melhor do que um assunto quentíssimo, tal como a reforma ortográfica. Ferreira Gullar já afirmava só caberem no poema a mulher de nuvens e a fruta sem preço; e eu digo: só cabem na reforma o hífen, os acentos, mas não cabe o pronome, substantivo e adjetivo "o cara". Nada há de mais útil na língua portuguesa do que a expressão "cara", nehuma outra palavra é capaz de carregar em sua essência tanto e tantos significados. Por exemplo: O cara trabalha, trabalha e não sai dessa; O cara ficou parado e não fez nada; O Lula é o cara.
E agora, o que dirão os estudiosos de literaturas lusófonas a esse respeito? Farão eles uso do cara? Terão eles presidentes como o nosso cara? E agora, onde fica a unificação lingüística?
Tantas perguntas suscitadas por um único verbete e este cara daqui já vai ficando cansado.