Talvez seja o livro, ou os livros, o único objeto capaz de proporcionar prazer em camadas. Primeiro há a encomenda, se ele não está na livraria. Depois, outra camada, o sujeito fica esperando para que ele chegue, tem noção de seu aspecto, mas não sabe exatamente o que está para chegar.
Então chega o livro. O sujeito vai até a livraria retirá-lo, no caso de não ter encomendado de modo que pudesse receber em casa, fica ansioso para ver como está, para sentir o peso, passa por aquela sensação de que é como tinha visto, mas não é rigorosamente igual à foto que vira na internet.
Ao chegar em casa, a pessoa abre o pacote, cheira o livro. Suas páginas constituem, em si mesmas, várias outras camadas, muito mais finas. E avança na leitura, camada por camada. Algo que os novos formatos, os tablets, os e-books, os semelhantes a isso tudo não podem proporcionar, é essa relação sensorial entre o leitor e seu livro.
Mas há também o desprazer do sujeito que, ao participar de um amigo secreto, recebe um livro do David Coimbra, do Paulo Coelho, da Martha Medeiros, ou do Diogo Mainardi. Daí, danem-se as camadas, ele joga tudo para cima, rasga-o, página por página, prende fogo nele e amaldiçoa o sujeito que o presenteou até décima nona geração.
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