segunda-feira, 10 de agosto de 2009

É frustrante ter frustrações

Seguidamente recebo emails com mensagens otimistas, ou que pelo menos pretendem passar um certo otimismo, mas que, invariavelmente possuem a seguinte moral: você pode achar que está mal, mas olhe para o lado, existe alguém numa pior.
Não sei se sou educado o suficiente ou suficientemente covarde para não responder mandando tais pessoas a certos lugares obscuros e não pronunciáveis, mas desisti de usar argumentos como: uma boa comparação não deve partir do princípio de que existem coisas piores, ou o fato de existirem coisas piores não fazem com que algo ruim seja bom.
Penso que essas mensagens são tão animadoras quanto um soco no estômago, e acabam sendo tão infrutíferas quanto aquele conselho que nos dão quando bebemos além da conta: se a cama estiver girando coloque o pé no chão que logo passa. Então, você coloca o pé no chão e fica ali, vendo tudo girar, mas com o pé fora da cama, o que na verdade apenas facilita um pouco a chegada ao banheiro. Quer dizer, acedito que esse tipo de mensagem não só carrega em si um tanto de conformismo, como também são um meio de dizer: este é o seu lugar, coloque-se ali resignadamente e seja tolerante com os intolerantes. Além, é claro, do fato de tais mensagens serem de conteúdo essencialmente materialista e moralizante, mas não pretendo discutir materialismo e moralidade aqui.
Mas, para amainar as coisas e não deixar que essas pessoas me roubem o autêntico sentimento indignado de incômodo e descontentamento, lanço aqui uma pequena lista das minhas principais frustrações:
1- Nunca dirigi uma ferrari;
2- Não sei dirigir carro algum, muito menos ferrari. Pensando bem, prefiro andar de bicicleta;
3- Nunca elegi um presidente ou governador(a), se bem que isto não chega a ser exatamente uma frustração;
4- As pessoas se recusam a andar apenas de bicicleta e deixar de lado os veículos motorizados;
5- Não era nascido na época da ditadura, não pude participar de grupos revolucionários e contar vantagens a respeito de meu passado glorioso como ativista;
6- Na verdade não sou ativista de nada, mesmo hoje, conseqüentemente não posso contar vantagens a respeito do meu presente glorioso e atuante;
7- Não fui eu quem escreveu Moby Dick, Ulisses, On the Road, O Encontro Marcado, ou Dom Quixote, ou ainda um mega best seller barato qualquer, sem valor estético ou histórico, mas que me permitisse acumular milhões em minha conta bancária;
8- Salinger não me concedeu uma entrevista;
8- Sempre me atrapalho nas contas.

2 comentários:

  1. "Na verdade não sou ativista e nada"... É possível isso? Não-ser (con hífen mesmo) não é desde-já um certo tipo de ativismo...? Hãm?
    Bj, Tê!

    ResponderExcluir
  2. Eu diria que um desativismo que, por oposição, quase chega lá.

    ResponderExcluir