quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sem título, embora isso venha a configurar um título

Só tenho a dizer que um bom escritor é aquele que consegue fazer algo extraordinário a partir de algo medíocre ou mesmo péssimo. Quando comecei a tomar consciência política, ou melhor, consciência da política, ao menos no modo de dizer, já que até hoje me considero meramente intuitivo em termos políticos e minha ida à urna seja apenas para cumprir a obrigação e para sacar o canhotinho de comprovação, embora demonstre um insistente pendor para a esquerda. 
Todavia, o assunto não é minha orientação política, social, intelectual, ideológica ou partidária, haja vista que não sou filiado a partido algum e que o assunto é o que faz um bom escritor tanto em seu modus operandi, como em sua formação. De qualquer maneira, deixando de lado essas digressões, creio que marcou-me profundamente o período político passado do Mello, embora ainda presente (só que em outro cargo político eletivo, infelizmente) como também do Cardoso (infelizmente), dois períodos muito marcantes para minha formação de dispensador político. E não apenas isso, como também houve um tempo em que o ministério da economia estava atirado a uma mulher que conseguia cumular esses dois sobrenomes marcantes para a política em um único nome e também para atirar a economia do país em, se não seu período mais esquecível , o mais temerário. Não que eu queira dizer que o gênero da ministra teria influência sobre sua atuação, nada disso. Acho até que foi de grande força simbólica termos atualmente uma presidente fêmea, e que talvez certas barreiras estejam caindo, embora eu acredite que as barreiras continuem ainda as mesmas, pois nossa nação é extremamente ignorante, preconceituosa e suscetível e que tal vitória não passa mesmo de conchavos, conciliações e conveniências, mas mesmo assim e apesar disso, tenho de ser otimista e procurar ver algo de bom, ou seja, enxergar a eleição da mulher presidente como uma transgressão ao nosso arcaísmo e machismo, o que de certo modo não deixa de ser, também, uma revolução cultural, mas no fundo tudo isso não passa de uma grande besteira.
Ademais, sobre o ofício de escrever, posso dizer que a mim foi revelado que o Fernando Sabino só poderia mesmo ser um grande escritor, pois, após toda aquela lama, ainda foi capaz de escrever a biografia da Zelia, que não dizia nada com nada, como qualquer político e, apesar de tudo, fazer com que fosse, ao menos, um texto bastante interessante, cuja leitura proporciona certo prazer estético, e que, se o livro não se propõe  involuntariamente a uma indagação válida a respeito do que aconteceu naquele período, pode ser visto como um extraordinário esforço, comparável talvez a um milagre, para converter uma história tenebrosa em um relato primoroso. Ou isso, ou minha simpatia pelo escritor é tanta que não consigo ver mais nada, nenhum defeito, não conseguindo conceder ao Fernando Sabino uma palavra de desconforto ou apresentar-me inconformado com o livro e com seus motivos, como também não me disponho a maiores discussões e dou o assunto por encerrado e, claro, "O encontro marcado" é mesmo capaz de absolvê-lo por um bom tempo de várias coisas, inclusive de loucuras como essa. Mas, finalizado, posso dizer que não paguei caro pelo livro, tendo adquirido-o em um sebo, pelo surpreendente preço de dois reais, como também aviso que sei que muitos tentarão fazer uma piada ou traçar uma relação entre os nomes dos presidentes em questão e o nome do escritor, peço apenas que nesta ocasião me poupem de tamanha falta de imaginação.

3 comentários:

  1. Na verdade, eu até vinha pensando em fazer um trocadilho entre o nome dos presidentes em questão e um certo pai. Mas acho que também deves ser poupado disso.
    Os trocadilhos que mais valeriam a pena seria misturar os títulos dos livros: "deixem a Zélia falar!" ou "a grande mentecapta".

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  2. O velho me agradeceu pelo texto, por sustentar a teoria de que nem todo Fernando é canalha. Sobre a Vélia, acho que é melhor que ela se cale mesmo, principalmente pelo que ela dizia na época daquele maldito pacote econômico, já sobre a mentecptalidade dela, acho muito injusta a comparação com o Geraldo Viramundo.

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  3. Certamente que seria uma injustiça comparar a dita suja ao Viramundo. Acho que acabei fazendo os trocadilhos sem considerar as personalidades, apenas considerando os títulos mesmo. Se bem que a ex-ministra deveria ter tido o mesmo fim do Viramundo. Ou, no mínimo, ter sido alvo da cagada do Geraldo.

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