terça-feira, 14 de junho de 2011

Espécies em extinção II

Quem lê enciclopédia hoje em dia? Aliás, quem lê hoje em dia? Acho que nem mesmo eu, já que simplesmente escrevo e escrevo e vou atirando tudo por aqui mesmo. O Jorge Luis Borges era um grande leitor de enciclopédias, e provavelmente por isso mesmo Borges tenha produzido toda aquela (belíssima) literatura chamada literatura de referência. Mas Isso nada tem a ver com o fato de que uma peculiar espécie foi dizimada pela internet e sítios encilopédicos existentes por aí, soterrada por toneladas de facilidade de informação, especialmente porque a vista e a visita de tal espécie era evitada quando batia às portas dos lares, tentava agendar uma visita, despertava a raiva nas pessoas, era mais perseguido pelos cães vira-latas que guarneciam as residências do que os carteiros, com o agravante de que, sobre eles, as donas de casa atiçavam os cães para que não teimassem em voltar ali. O sujeito em questão é o extinto vendedor de enciclopédias.
Sim, eles tentavam tirar seu sustento da chateação das donas de casa. Afinal, sempre tocavam a campainha lá pelas onze, onze e meia da manhã, justamente quando elas estavam ocupadas fazendo o almoço para os filhos que estavam por chegar do colégio, o que certamente colaborava muito para fossem enxotados. Talvez este fosse seu maior erro de estratégia, junto com a falta de visão, por não procurar um novo emprego, prevendo que a internet haveria de chegar um dia e, junto com ela a wikipédia, que não tem resposta pra tudo, mas bem que engana.
Eram tempos em que os trabalhos do colégio eram feitos da base de copiar, copiar e passar a limpo. Nada de control mais c e control mais v. Tudo na base do punho. Veja bem: foi extinto o vendedor, não a enciclopédia, já que podemos comprar livros em alguma livraria virtual, sem ter que abrir as portas da casa e convidar para entrar aquele cara que passaria horas falando sobre as vantagens dessa ou daquela coleção, sobre a que possuía mais volumes, tinha mais figuras, era mais simples, era mais completas,enfim, tudo que se pode querer de uma boa enciclopédia.
Mas o vendedor de enciclopédia insistia, dizia que tinha a solução para o futuro dos filhos, além de uma alternativa de lazer que viria a enriquecer mais ainda a cultura dos pestinhas estudantes. Claro, eu mesmo tenho uma enciclopédia em casa. Não sei como foi comprada. Tem figuras e a pesquisa é feita através de um índice com tudo organizado em ordem alfabética. Estas últimas explicações eu dou para a eventualidade de  algum dos meus leitores ter nascido na época pós google, quando nem os acentos são colocados nas palavras, já que o corretor ortográfico do editor de textos se encarrega de corrigir os erros mais bizarros.
Mas a verdade é que sabe-se que o vendedor de enciclopédia foi extinto pelos tempos informatizados que atravessamos hoje. Ela não bate mais de porta em porta oferecendo coleções de livros com nomes esquisitos, divididos em vários e pesados volumes. É verdade. O vendedor de enciclopédia foi extinto. E o pior é que ninguém sente falta dele.

5 comentários:

  1. Até que a figura do vendedor de enciclopédias era mais simpática do que a dos proselitistas que, até hoje, enchem nossa paciência tentando vender religião e deus. Essa espécie continua na ativa, atrapalhando donas de casa.

    ResponderExcluir
  2. Mas isto só porque o google ainda não inventou uma religião online, até onde eu saiba...

    ResponderExcluir
  3. "até onde eu saiba" ficou ecoando haha

    ResponderExcluir
  4. Qdo criança eu herdei um enciclopédia da minha tia... só que faltou a letra "P". Putaquipariu, TUDO o que eu precisava pesquisar no colégio caía sempre no P.

    ResponderExcluir
  5. Enciclopédia assemelha-se bastante a ciclope. Mas o que realmente me seduz nas enciclopédias é algo como "a-arg; arg-bla; bla-cas; cas-cru; cru-eva; eva-gua; gua-lem; lem-mon; mon-pir; pir-sam; sam-ter; ter-zwo" como dizia o J.L. Borges: um livro na estante é apenas uma lombada" e que lombada sedutara tinha aquela enciclopédia.

    ResponderExcluir