Quem lê enciclopédia hoje em dia? Aliás, quem lê hoje em dia? Acho que nem mesmo eu, já que simplesmente escrevo e escrevo e vou atirando tudo por aqui mesmo. O Jorge Luis Borges era um grande leitor de enciclopédias, e provavelmente por isso mesmo Borges tenha produzido toda aquela (belíssima) literatura chamada literatura de referência. Mas Isso nada tem a ver com o fato de que uma peculiar espécie foi dizimada pela internet e sítios encilopédicos existentes por aí, soterrada por toneladas de facilidade de informação, especialmente porque a vista e a visita de tal espécie era evitada quando batia às portas dos lares, tentava agendar uma visita, despertava a raiva nas pessoas, era mais perseguido pelos cães vira-latas que guarneciam as residências do que os carteiros, com o agravante de que, sobre eles, as donas de casa atiçavam os cães para que não teimassem em voltar ali. O sujeito em questão é o extinto vendedor de enciclopédias.
Sim, eles tentavam tirar seu sustento da chateação das donas de casa. Afinal, sempre tocavam a campainha lá pelas onze, onze e meia da manhã, justamente quando elas estavam ocupadas fazendo o almoço para os filhos que estavam por chegar do colégio, o que certamente colaborava muito para fossem enxotados. Talvez este fosse seu maior erro de estratégia, junto com a falta de visão, por não procurar um novo emprego, prevendo que a internet haveria de chegar um dia e, junto com ela a wikipédia, que não tem resposta pra tudo, mas bem que engana.
Eram tempos em que os trabalhos do colégio eram feitos da base de copiar, copiar e passar a limpo. Nada de control mais c e control mais v. Tudo na base do punho. Veja bem: foi extinto o vendedor, não a enciclopédia, já que podemos comprar livros em alguma livraria virtual, sem ter que abrir as portas da casa e convidar para entrar aquele cara que passaria horas falando sobre as vantagens dessa ou daquela coleção, sobre a que possuía mais volumes, tinha mais figuras, era mais simples, era mais completas,enfim, tudo que se pode querer de uma boa enciclopédia.
Mas o vendedor de enciclopédia insistia, dizia que tinha a solução para o futuro dos filhos, além de uma alternativa de lazer que viria a enriquecer mais ainda a cultura dos pestinhas estudantes. Claro, eu mesmo tenho uma enciclopédia em casa. Não sei como foi comprada. Tem figuras e a pesquisa é feita através de um índice com tudo organizado em ordem alfabética. Estas últimas explicações eu dou para a eventualidade de algum dos meus leitores ter nascido na época pós google, quando nem os acentos são colocados nas palavras, já que o corretor ortográfico do editor de textos se encarrega de corrigir os erros mais bizarros.
Mas a verdade é que sabe-se que o vendedor de enciclopédia foi extinto pelos tempos informatizados que atravessamos hoje. Ela não bate mais de porta em porta oferecendo coleções de livros com nomes esquisitos, divididos em vários e pesados volumes. É verdade. O vendedor de enciclopédia foi extinto. E o pior é que ninguém sente falta dele.
Até que a figura do vendedor de enciclopédias era mais simpática do que a dos proselitistas que, até hoje, enchem nossa paciência tentando vender religião e deus. Essa espécie continua na ativa, atrapalhando donas de casa.
ResponderExcluirMas isto só porque o google ainda não inventou uma religião online, até onde eu saiba...
ResponderExcluir"até onde eu saiba" ficou ecoando haha
ResponderExcluirQdo criança eu herdei um enciclopédia da minha tia... só que faltou a letra "P". Putaquipariu, TUDO o que eu precisava pesquisar no colégio caía sempre no P.
ResponderExcluirEnciclopédia assemelha-se bastante a ciclope. Mas o que realmente me seduz nas enciclopédias é algo como "a-arg; arg-bla; bla-cas; cas-cru; cru-eva; eva-gua; gua-lem; lem-mon; mon-pir; pir-sam; sam-ter; ter-zwo" como dizia o J.L. Borges: um livro na estante é apenas uma lombada" e que lombada sedutara tinha aquela enciclopédia.
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