quinta-feira, 8 de julho de 2010

Desagravo

Nessa época de copa do mundo de futebol, em que temos que nos esforçar para conseguir passar à margem dos acontecimentos futebolísticos, já que todos comentam. Comentam com força, paixão e com duvidosa propriedade, mas comentam no trabalho, no ônibus, nas filas dos bancos, lotéricas e da padaria. Tais comentários provam que é difícil ser uma alienado futebolístico, pelo menos por enquanto, quando temos realmente muitos técnicos de futebol por aí acreditando nessa coisa toda.
A verdade é que após uma não muito criteriosa investigação com metodologia de imersão parcial para desvendar o fascínio esse fascínio exercido sobre a maioria das pessoas, podemos perceber que grande parte dele advém de um aparato muito bem talhado de conteúdo matemático e linguístico.
Matemático porque temos invariavelmente as tais estatísticas cabalísticas absurdas, mas que sempre acabam surtindo efeito se combinado com a credulidade popular. Sempre podemos notar o uso de um levantamento de dados muito proveitoso como: nos dez primeiros minutos, dos três primeiros jogos em que a seleção jogou usando a camisa amarela combinada com as meias brancas, os gols foram marcados por zagueiros que foram para a área do adversário para tentar fazer gol de cabeça, mas acabaram marcando com os pés. Claro, tal informação não quer dizer nada, mas a quantidade de números empresta-lhe uma certa autenticidade incontestável.
Linguístico porque pode-se lá fazer uso de uma determinada palavra que até então estava em desuso, relegada a um determinado jargão, mas que justamente por esse uso, obtém aprovação popular e passa novamente a fazer parte do acervo, mesmo que não se saiba exatamente o que tal palavra pretendia expressar inicialmente, obtendo, então, um novo significado, pelo menos no campo da imagem. É o caso de revanche. É falar em revanche para surgir na mente a imagem da seleção derrotando o adversário que o eliminou naquela maldita rodada. Atualmente, o significado de revanche é odiar a Holanda.
Então, basta o fanático por a mão no dicionário Aurélio para atirá-lo ao fogo, por via das dúvidas, já que carrega em si o nome do adversário. Afinal, ninguém quer ser visto como traidor da pátria nessas horas de nacionalismo emergente.
Mas, justamente, nosso propósito hoje é desmitificar e desmistificar essa palavra. Desfazer-lhe a associação injusta com o futebol e colocá-la em seu devido lugar, livrando-a de qualquer imagem negativa. Eis o motivo da existência desta postagem de hoje: revanchar a palavra revanche, para que possamos vê-la (a palavra) alegremente andando por aí, de boca em boca, de ouvido em ouvido, sem que tenha que carregar a culpa ou a vergonha de estar associada a uma partida de futebol e que possa voltar a ser exatamente o que uma palavra é e também para desviá-la do caminho de significado que pretendem que ela tenha, incutindo subconscientemente um significação da palavra através da exposição de uma imagem diversa daquela usualmente aplicada.
Então,

Revanche

É quando a árvore, após a tempestade, sorri e balança os braços alegremente após ter atirado na ventania um de seus galhos sobre o capô de um carro.

2 comentários:

  1. Outra coisa que a gente podia revanchar é o próprio nacionalismo, para que possamos falar sobre ele e demonstrá-lo também sem que esteja associado ao futebol.

    ResponderExcluir
  2. Existem blogs que merecem ser impressos e publicados em livros pra que tenham um registro formal adequado e jamais sejam perdidas as postagens. Esse não é um deles. Esse merece ser publicado em tratados científicos e enciclopédicos! O exemplo de revanche é carregado de uma linguagem poética perfeita!
    Não gosto de puxar o saco de blogueiro, mas dessa vez preciso render meu talento de escrevinhador a esta postagem!

    ResponderExcluir