Bicho ruim realmente é o homem. Não mais do que isto. Apenas o homem, vingativo sobre si mesmo e capaz dos piores e melhores conselhos.
De tal forma:
Apaga com um sorriso a dor que invade o teu coração. Assim teu inimigo não saberá que tramas secretamente dar-lhe um forte pontapé no traseiro na primeira oportunidade.
Também não deixa que ele veja as tuas lágrimas de tristeza, cuspa-lhe diretamente no olho esquerdo ao encará-lo.
Pois a verdade é que não há pessoa capaz de ignorar a própria mágoa, como não há cabra alimentada com má ração que produza bom leite, assim como o pelo da ovelha que se alimenta de más pastagens produz apenas má lã, que produz mau agasalho contra o frio maior. E a rosa que brota bebendo da água poluida produz pétalas falsas que não têm cor viva, mas antes são opacas e escurecidas como os pensamentos dos iníquos.
E de que vale a fama, senão para atrair vários olhares invejosos e insidiosos? Pois não é verdade que mais vale uma quente cama e bom cobertor do que um lugar visível ao vento frio?
E àqueles que te perguntarem se pensas em vingança, diz-lhes: apenas penso em vingança, atiro os maus às fogueiras infernais da minha mente, no verdadeiro inferno metafórico, e esta vingança basta para mim. Ou melhor, não diz nada. Certos recantos da mente por poucos podem ou devem ser vislumbrados.
Este blog não tem propósito, não pretende levantar teorias revolucionárias, escrever auto-ajuda, encontrar soluções, tampouco parecer mais inteligente do que merece. Enfim, este blog não tem objetivos. Tem não-objetivos.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Aniversário da tia no inverno
Na sala uma tia velha de cara sorridente e avermelhada com as pernas cruzadas mostrando as meias e as polainas marrons e enrugadas cumprimentando todos com alegres e melancólicos "como vais?", ajudando a receber os convidados e os intrusos. Na cozinha, um cheiro de chá de maçã e cravo, uma dona de casa correndo com xícaras de um lado para outro com um olhar de leve desespero e um som de louça quebrando. Da sala voz de algum dos convidados, parente ou não, lembra que ao quebrar três pratos o terceiro trará boa sorte.
Atrasadas, chegam duas primas, uma vestindo uma espécie de bicho morto largado sobre os ombros, de vestido e baton igualmente vermelhos, outra exibindo sorriso e voz estridentes e amarelados. As duas prontas para atacar com afiada língua os demais convidados, alegrias da festa, depois que ela termina.
A televisão ligada com o volume no mínimo. Alguém comenta o que vai acontecer com o vilão da novela. A prima de voz e sorriso estridentes falando sobre as propagandas que assistiu em um canal de vídeo da internet e cantando, de forma despudoradamente desafinada e irritante os jingles das campanhas publicitárias mais recentes, com uma placa de inteligência na testa e um olhar estúpido que denuncia muito mais do que qualquer bandeira. Alguém deixa cair no chão um pedaço de ovo de codorna, que a dona de casa corre para apanhar, mas que é esmagado pelo desavisado pé de um dos tios que contava histórias e vantagens dos bons tempos aqueles.
Na camisa uma mancha de café e logo a seguir o conselho da tia velha com polainas para lavar com um pouquinho de vinagre, que tira qualquer tipo de mancha, menos as manchas das pessoas.
À noite todos vão embora, exceto a dona da festa que fica juntando as louças e os papeizinhos de doce enquanto pensa que é bom fazer aniversário somente uma vez por ano, enquanto o marido dá volume na televisão.
Atrasadas, chegam duas primas, uma vestindo uma espécie de bicho morto largado sobre os ombros, de vestido e baton igualmente vermelhos, outra exibindo sorriso e voz estridentes e amarelados. As duas prontas para atacar com afiada língua os demais convidados, alegrias da festa, depois que ela termina.
A televisão ligada com o volume no mínimo. Alguém comenta o que vai acontecer com o vilão da novela. A prima de voz e sorriso estridentes falando sobre as propagandas que assistiu em um canal de vídeo da internet e cantando, de forma despudoradamente desafinada e irritante os jingles das campanhas publicitárias mais recentes, com uma placa de inteligência na testa e um olhar estúpido que denuncia muito mais do que qualquer bandeira. Alguém deixa cair no chão um pedaço de ovo de codorna, que a dona de casa corre para apanhar, mas que é esmagado pelo desavisado pé de um dos tios que contava histórias e vantagens dos bons tempos aqueles.
Na camisa uma mancha de café e logo a seguir o conselho da tia velha com polainas para lavar com um pouquinho de vinagre, que tira qualquer tipo de mancha, menos as manchas das pessoas.
À noite todos vão embora, exceto a dona da festa que fica juntando as louças e os papeizinhos de doce enquanto pensa que é bom fazer aniversário somente uma vez por ano, enquanto o marido dá volume na televisão.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Desagravo
Nessa época de copa do mundo de futebol, em que temos que nos esforçar para conseguir passar à margem dos acontecimentos futebolísticos, já que todos comentam. Comentam com força, paixão e com duvidosa propriedade, mas comentam no trabalho, no ônibus, nas filas dos bancos, lotéricas e da padaria. Tais comentários provam que é difícil ser uma alienado futebolístico, pelo menos por enquanto, quando temos realmente muitos técnicos de futebol por aí acreditando nessa coisa toda.
A verdade é que após uma não muito criteriosa investigação com metodologia de imersão parcial para desvendar o fascínio esse fascínio exercido sobre a maioria das pessoas, podemos perceber que grande parte dele advém de um aparato muito bem talhado de conteúdo matemático e linguístico.
Matemático porque temos invariavelmente as tais estatísticas cabalísticas absurdas, mas que sempre acabam surtindo efeito se combinado com a credulidade popular. Sempre podemos notar o uso de um levantamento de dados muito proveitoso como: nos dez primeiros minutos, dos três primeiros jogos em que a seleção jogou usando a camisa amarela combinada com as meias brancas, os gols foram marcados por zagueiros que foram para a área do adversário para tentar fazer gol de cabeça, mas acabaram marcando com os pés. Claro, tal informação não quer dizer nada, mas a quantidade de números empresta-lhe uma certa autenticidade incontestável.
Linguístico porque pode-se lá fazer uso de uma determinada palavra que até então estava em desuso, relegada a um determinado jargão, mas que justamente por esse uso, obtém aprovação popular e passa novamente a fazer parte do acervo, mesmo que não se saiba exatamente o que tal palavra pretendia expressar inicialmente, obtendo, então, um novo significado, pelo menos no campo da imagem. É o caso de revanche. É falar em revanche para surgir na mente a imagem da seleção derrotando o adversário que o eliminou naquela maldita rodada. Atualmente, o significado de revanche é odiar a Holanda.
Então, basta o fanático por a mão no dicionário Aurélio para atirá-lo ao fogo, por via das dúvidas, já que carrega em si o nome do adversário. Afinal, ninguém quer ser visto como traidor da pátria nessas horas de nacionalismo emergente.
Mas, justamente, nosso propósito hoje é desmitificar e desmistificar essa palavra. Desfazer-lhe a associação injusta com o futebol e colocá-la em seu devido lugar, livrando-a de qualquer imagem negativa. Eis o motivo da existência desta postagem de hoje: revanchar a palavra revanche, para que possamos vê-la (a palavra) alegremente andando por aí, de boca em boca, de ouvido em ouvido, sem que tenha que carregar a culpa ou a vergonha de estar associada a uma partida de futebol e que possa voltar a ser exatamente o que uma palavra é e também para desviá-la do caminho de significado que pretendem que ela tenha, incutindo subconscientemente um significação da palavra através da exposição de uma imagem diversa daquela usualmente aplicada.
Então,
Revanche
É quando a árvore, após a tempestade, sorri e balança os braços alegremente após ter atirado na ventania um de seus galhos sobre o capô de um carro.
A verdade é que após uma não muito criteriosa investigação com metodologia de imersão parcial para desvendar o fascínio esse fascínio exercido sobre a maioria das pessoas, podemos perceber que grande parte dele advém de um aparato muito bem talhado de conteúdo matemático e linguístico.
Matemático porque temos invariavelmente as tais estatísticas cabalísticas absurdas, mas que sempre acabam surtindo efeito se combinado com a credulidade popular. Sempre podemos notar o uso de um levantamento de dados muito proveitoso como: nos dez primeiros minutos, dos três primeiros jogos em que a seleção jogou usando a camisa amarela combinada com as meias brancas, os gols foram marcados por zagueiros que foram para a área do adversário para tentar fazer gol de cabeça, mas acabaram marcando com os pés. Claro, tal informação não quer dizer nada, mas a quantidade de números empresta-lhe uma certa autenticidade incontestável.
Linguístico porque pode-se lá fazer uso de uma determinada palavra que até então estava em desuso, relegada a um determinado jargão, mas que justamente por esse uso, obtém aprovação popular e passa novamente a fazer parte do acervo, mesmo que não se saiba exatamente o que tal palavra pretendia expressar inicialmente, obtendo, então, um novo significado, pelo menos no campo da imagem. É o caso de revanche. É falar em revanche para surgir na mente a imagem da seleção derrotando o adversário que o eliminou naquela maldita rodada. Atualmente, o significado de revanche é odiar a Holanda.
Então, basta o fanático por a mão no dicionário Aurélio para atirá-lo ao fogo, por via das dúvidas, já que carrega em si o nome do adversário. Afinal, ninguém quer ser visto como traidor da pátria nessas horas de nacionalismo emergente.
Mas, justamente, nosso propósito hoje é desmitificar e desmistificar essa palavra. Desfazer-lhe a associação injusta com o futebol e colocá-la em seu devido lugar, livrando-a de qualquer imagem negativa. Eis o motivo da existência desta postagem de hoje: revanchar a palavra revanche, para que possamos vê-la (a palavra) alegremente andando por aí, de boca em boca, de ouvido em ouvido, sem que tenha que carregar a culpa ou a vergonha de estar associada a uma partida de futebol e que possa voltar a ser exatamente o que uma palavra é e também para desviá-la do caminho de significado que pretendem que ela tenha, incutindo subconscientemente um significação da palavra através da exposição de uma imagem diversa daquela usualmente aplicada.
Então,
Revanche
É quando a árvore, após a tempestade, sorri e balança os braços alegremente após ter atirado na ventania um de seus galhos sobre o capô de um carro.
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