terça-feira, 15 de junho de 2010

Explicações necessárias e desnecessárias

Há os que acreditam que meu apontamento de não-objetivos no blog é uma espécie de fuga, uma tentativa de ficar atras da moita sem assumir compromissos com os textos, sem me engajar.
Mas acho que exige um grande esforço escrever algo sem objetivo. Poderia entrar em uma questão recursiva do tipo: o objetivo é não ter objetivos, tal como buscar inspiração para não ter inspiração e, mesmo assim, escrever textos que inspirem algo ao leitor, seja um leve sorriso, raiva, ou dor no estômago.
Mas a verdade é que tenho consciência da carga que isso traz e do quanto isso pode afetar o modo de escrever por aqui. Quer dizer, não-objetivo é algo como fazer um texto sem que ele esteja algemado a um determinado padrão, uma forma, uma corrente, ou a um determinado assunto. Existem aqueles que falam sobre cinema, ecologia, música, artes, literatura, futebol, videogame. Bons textos, claro, falando dos mais úteis aos mais inúteis assuntos, tal como aqueles que fazem colagem de outros autores e deixam apenas uma pequena assinatura, um comentário ínfimo, como se o autor agradecesse por ter sido lembrado.
Mas o que quero dizer com toda essa dialética desfilada e desfiada nos parágrafos iniciais? Justamente preciso dar uma explicação aos meus leitores, principalmente aos que questionam o apontamento de "não-objetivos" deste blog, de que tenho consciência da ironia e talvez até da contradição que isto pode representar e, não atendo-me ao rigor da forma, sigo escrevendo livremente.
Ou poderiam me perguntar, já que não tenho um objetivo escrevendo aqui, não melhor seria não escrever de modo algum? Certo?
Mas eis que explico onde está a graça disso tudo. Posso fazer um exercício livre de escrita, sem estar engajado a movimento algum, para que possa perpertar um exercício livre tanto na forma como no conteúdo.
Alguns podem dizer que covardemente escondo-me na moita da não objetividade e da falta de propósito para não buscar posicionamento político e ideológico. Mas creio que como toda a literatura é algo pertencente muito mais ao leitor/espectador do que ao escritor/artista, já que quem realmente encaminha o texto para seus devidos lugares é a pessoa que lê e não a pessoa que escreve, e também porque acredito que um texto só é realmente do autor enquanto existe apenas em sua mente (no plano metafísico) e que, quando é posto no papel, está acabado, a criatura ganhou vida, abriu-se caixa de Pandora. A esse(a)s que me acusam de covardia, ou que criticam minha postura não objetiva, ou que acreditam que não tenho conseciência do que está escrito, bem como dos motivos que me levam a escrever, digo: qualquer texto de qualquer pessoa traz em si uma idéia do autor, e não do que ou de quem é o autor.
E aí está a resposta necessária e ao mesmo tempo desnecessária para os leitores. O grande não-objetivo é praticar um exercício de excrita livre para que os (poucos, mas importantes) leitores possam praticar, também, um exercício livre de leitura, pois texto algum é tão carente de explicações, já que manual de intruções é para eletrodomésticos.

Um comentário:

  1. Sabiamente anárquico! Ter não-objetivos talvez seja isso: expôr o anarquista latente e não deixá-lo aprisionado no plano das ideias íntimas do autor.

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