terça-feira, 22 de junho de 2010

Entre pérolas e diamantes

Envelheço, cresço, me aperfeiçoo e evoluo. Talvez não, talvez apenas envelheça, já que não estou mais em idade de crescimento e evoluir, atualmente, parece significar apenas andar para a frente ou coisa de escola de samba. Como não gosto de carnaval acho que o tempo passa e adquiro apenas velhice.
Mas se a idade me trouxesse algo além da velhice acho que traria um pouco de paciência, já que desgastada alusão a Jó parece não mais fazer sentido para mim.
Então, das várias pérolas a que sou submetido, tal como várias provações às quais foi também submetido o profeta, nada melhor para tirar um estagnado do estado de estagnação do que uma boa e velha dose de burrice alheia.
Em primeiro lugar, na semana em que perdemos o Saramago, o comentário mais inteligente foi justamente aquele que dizia que o mundo ficou mais burro. Claro, estamos acostumados com esse tipo de perda. Perdemos muitos deles antes mesmo de nascer. No meu caso, posso dizer que antes mesmo de nascer já tinha perdido o Kazantzákis, o Eça de Queirós, o James Joyce (cujo feriado em homenagem a um livro seu foi celebrado há pouco). Tenho idade suficiente para ter perdido o Bukowski e mais recentemente perdi o Salinger.
Mas, sobre a perda do Saramago, meu amigo otário expressou muito bem o sentimento de fazer parte de um ambiente em que a cultura não apenas é desvalorizada, como também é hostilizada (e não, hostilizar nada tem a ver com eucaristia), portanto, nada mais tenho a dizer sobre a passagem do autor, sobre a qual pensei em fazer uma postagem de uma página em branco, simbolizando o vazio que a partida de Saramago deixou para a cultura, mas achei que tal metáfora seria um tanto óbvia.
Em segundo lugar, no dia dezesseis de junho deixei, em um site de relacionamento, uma mensagem dizendo: feliz bloomsday, principalmente aos que sabem o que significa, pelo que fui atacado por várias pessoas que me disseram que estavam a merecer os parabéns, já que tinham recorrido a uma conhecida enciclopédia virtual para descobrir o que signficava. Há de chegar o dia em que a internet não trará resposta para tudo e que a solução de todos os problemas do mundo não será apenas uma superficial leitura de um artigo de meia dúzia de linhas escritas anonimamente e publicadas sabe-se lá como. Daí, pessoas como nós, que mantêm o mínimo de gosto pela leitura (sim, leitura de livros, com páginas, índice, capa, cheiro e peso) darão risada do dia em que aqueles que não sabem ao menos escrever o nome do filósofo que dizia que o crescimento exige sairão a correr pelas ruas, escabelando-se, por não encontrar respostas rápidas para copiar e colar através de um comando no teclado. Não, na verdade este dia não há de chegar, mas pensar a respeito é algo mais ou menos divertido.
Mas, já que falamos aqui de exercícios de paciência, gostaria apenas de dizer que a pérola da semana vem de uma pessoa que me disse que tinha cultura, pois escuta uma estação de rádio especializada em música brega (agro-brega, mais especificamente). Claro, isto pode ser visto como um ato hostil à cultura, mas é, principalmente, um ato de hostilidade aos meus ouvidos. E digo mais: tenho cultura pois não ouço músicas no rádio (para ouvir músicas utilizo apenas meu toca-discos), escuto apenas rádio AM, programas de entrevistas e "a voz do Brasil". Não assito televisão também, além de fazer uso da internet apenas para proferir contra-sensos feito este.
Sigamos, portanto, envelhecendo, aperfeiçoando-nos, evoluindo e colhendo tais pérolas por aí. Aliás, se algum leitor tiver alguma para me enviar, melhor que guarde para si, a menos que tenha valor comercial. Neste caso terei prazer em não publicá-la, como também não dividirei o lucro da descoberta.

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