segunda-feira, 14 de junho de 2010

Por fora da copa e de outras partes também

Poderia dizer muita coisa a respeito da copa do mundo de futebol. Talvez algumas delas ufanistas, outras críticas ou ácidas. Poderia discursar a respeito da identidade nacional, da motivação política e social, questionar a comoção e a alienação causada pelos esportes, fazendo um paralelo entre a política romana de pão e vinho, ou a representação de uma batalha medival através de um jogo de futebol. Poderia até mesmo dizer algo altamente irônico, tal como fez Rubem Braga com relação à exploração lunar. Mas, querendo tomar parte nos fatos e também para que não venham chamar a mim de antidesportista ou algo parecido, faço justamente o oposto, ou quase.
Tendo em vista que os esportes são uma forma de socializar, e porque também desde cedo participei paralelamente das conversas acerca de tal esporte. Digo paralelamente porque ficava apenas escutando o desenrolar da discussão nas rodas de conversa, imaginando uma forma paralela de me infiltrar por ali, feito aquelas crianças que vão para a praia, mas não têm permissão das mães para entrar na água e ficam lá, paradas, com aquele olhar de quem imagina qual a sensação de estar tomando parte daquilo tudo.
Mas a verdade é que, em uma copa do mundo na qual as maiores atrações e os principais alvos das discussões são o nome da bola e umas cornetas barulhentas de nome esquisito, parece que finalmente tenho autorização para participar da conversa e tomar parte nas crônicas esportivas, para o que dou minha contribuição com um jogo paralelo.
Digo jogo paralaelo porque em qualquer tipo de competição, seja ela esportiva, artística ou de qualquer natureza, sempre escutamos a máxima de que o importante é competir.
Claro que competir não é o mais importante, já que o resultado mais justo parece justamente aquele menos desejado: o empate.
Empatar uma partida significa que nenhuma equipe foi superior a outra, significa igualdade, significa que, apesar de todas as diferenças, no fim das contas todos os seres humanos são iguais. Besteira, claro, já que até os comentaristas esportivos poderiam ficar desempregados, o que poderia gerar uma convulsão social, coisa que já nos deixou a todos fartos (tanto os comentaristas quanto as convulsões sociais).
Então, teríamos os cronistas de futebol comentando, por exemplo, um belíssimo empate em zero a zero entre, digamos, Brasil e Holanda (se assim as possibilidades de cruzamento das chaves permitirem) na final da copa. Bom, melhor não dizer que é uma final de copa, mas sim uma partida qualquer entre o início e o fim do campeonato.
Imagino uma crônica sobre tal partida, que seria assim:
Brasil e Holanda (claro, para os jornalistas brasileiros, o seu país vem em primeiro lugar) fizeram ontem uma belíssima partida qualquer entre o início e o fim do campeonato que, resultou em um placar de zero a zero. O primeiro zero foi marcado pela Holanda em um contra-ataque rápido pela esquerda, mas a bola (jabulani) foi afastada pela zaga brasileira, que apesar de não estar muito atenta, conseguiu afastar o perigo.
A seleção reagiu, marcando um belíssimo zero com uma bola (jamelani) que bateu na trave e nas costas do goleiro adversário, mas foi para fora. A Holanda, não se intimidando com a pressão da seleção brasileira, foi ao ataque, marcando um zero de bicicleta, mas a bola (jambolani) ficou com o goleiro. Foi um ótimo jogo, de belíssimos lances, apesar da Holanda ter marcado um zero bastante duvidoso, quando um de seus atacantes chutou a bola (jambalaia) para o meio da arquibancada, danificando uma das cornetas tocadas pelos torcedores.
Evidentemente tal partida não tem muitas possibilidades de ocorrer, e, se acontecesse, seria de profundo desinteresse para os espectadores, torcedores e jornalistas. E, claro, não brotam pés de milho perto de minha janela.

Um comentário:

  1. Poderia ter mais emoção se um dos zeros fosse marcado pelo juíz, ao anular um ataque perigoso de um dos lados, quando um dos atacantes estava cara-a-cara com o goleiro caído.

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