Poderia dizer muita coisa a respeito da copa do mundo de futebol. Talvez algumas delas ufanistas, outras críticas ou ácidas. Poderia discursar a respeito da identidade nacional, da motivação política e social, questionar a comoção e a alienação causada pelos esportes, fazendo um paralelo entre a política romana de pão e vinho, ou a representação de uma batalha medival através de um jogo de futebol. Poderia até mesmo dizer algo altamente irônico, tal como fez Rubem Braga com relação à exploração lunar. Mas, querendo tomar parte nos fatos e também para que não venham chamar a mim de antidesportista ou algo parecido, faço justamente o oposto, ou quase.
Tendo em vista que os esportes são uma forma de socializar, e porque também desde cedo participei paralelamente das conversas acerca de tal esporte. Digo paralelamente porque ficava apenas escutando o desenrolar da discussão nas rodas de conversa, imaginando uma forma paralela de me infiltrar por ali, feito aquelas crianças que vão para a praia, mas não têm permissão das mães para entrar na água e ficam lá, paradas, com aquele olhar de quem imagina qual a sensação de estar tomando parte daquilo tudo.
Mas a verdade é que, em uma copa do mundo na qual as maiores atrações e os principais alvos das discussões são o nome da bola e umas cornetas barulhentas de nome esquisito, parece que finalmente tenho autorização para participar da conversa e tomar parte nas crônicas esportivas, para o que dou minha contribuição com um jogo paralelo.
Digo jogo paralaelo porque em qualquer tipo de competição, seja ela esportiva, artística ou de qualquer natureza, sempre escutamos a máxima de que o importante é competir.
Claro que competir não é o mais importante, já que o resultado mais justo parece justamente aquele menos desejado: o empate.
Empatar uma partida significa que nenhuma equipe foi superior a outra, significa igualdade, significa que, apesar de todas as diferenças, no fim das contas todos os seres humanos são iguais. Besteira, claro, já que até os comentaristas esportivos poderiam ficar desempregados, o que poderia gerar uma convulsão social, coisa que já nos deixou a todos fartos (tanto os comentaristas quanto as convulsões sociais).
Então, teríamos os cronistas de futebol comentando, por exemplo, um belíssimo empate em zero a zero entre, digamos, Brasil e Holanda (se assim as possibilidades de cruzamento das chaves permitirem) na final da copa. Bom, melhor não dizer que é uma final de copa, mas sim uma partida qualquer entre o início e o fim do campeonato.
Imagino uma crônica sobre tal partida, que seria assim:
Brasil e Holanda (claro, para os jornalistas brasileiros, o seu país vem em primeiro lugar) fizeram ontem uma belíssima partida qualquer entre o início e o fim do campeonato que, resultou em um placar de zero a zero. O primeiro zero foi marcado pela Holanda em um contra-ataque rápido pela esquerda, mas a bola (jabulani) foi afastada pela zaga brasileira, que apesar de não estar muito atenta, conseguiu afastar o perigo.
A seleção reagiu, marcando um belíssimo zero com uma bola (jamelani) que bateu na trave e nas costas do goleiro adversário, mas foi para fora. A Holanda, não se intimidando com a pressão da seleção brasileira, foi ao ataque, marcando um zero de bicicleta, mas a bola (jambolani) ficou com o goleiro. Foi um ótimo jogo, de belíssimos lances, apesar da Holanda ter marcado um zero bastante duvidoso, quando um de seus atacantes chutou a bola (jambalaia) para o meio da arquibancada, danificando uma das cornetas tocadas pelos torcedores.
Evidentemente tal partida não tem muitas possibilidades de ocorrer, e, se acontecesse, seria de profundo desinteresse para os espectadores, torcedores e jornalistas. E, claro, não brotam pés de milho perto de minha janela.
Poderia ter mais emoção se um dos zeros fosse marcado pelo juíz, ao anular um ataque perigoso de um dos lados, quando um dos atacantes estava cara-a-cara com o goleiro caído.
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