segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filosofia do descartável e do preço não arredondado

É difícil falar sobre valores, sejam eles fianceiros, morais ou afetivos. De qualquer maneira, parece que tais valores se relacionam. Um exemplo: há uns anos atrás gostavamos de tocar guitarra em uma banda. Compávamos, então uma guitarra, barata que fosse mas o prazer era andar com ela pendurada nas costas para dizer que fazíamos parte de um grupo exclusivo, a banda.
A guitarra tinha, então, um valor muito além daquela cifra de tantos reais, ou dólares, já que na época tínhamos que importar os instrumentos ou comprar usado pelo preço de novo.
Mas a questão vai além da exibição musical. Podemos pensar no valor das coisas de plástico: é apenas R$1,99, se estragar eu jogo fora e compro um novo. Mas os objetos de R$1,99 têm um outro custo: plástico precisa ser fabricado, lixo deve ser depositado em algum lugar, objetos que custam barato para nós podem estar sendo produzidos em uma fábrica no exterior que emprega mão de obra baratíssima, às vezes em troca de um prato de comida. Não aceitar a filosofia do descartável significa, também, zelar pela qualidade de vida e pelo meio ambiente.
Vejamos novamente o exemplo da guitarra, ela possuía um valor afetivo, coisa que não temos por um produto de R$1,99 que não é feito para durar e muitas vezes sua necessidade pode ser questionada.
E assim parece caminhar o consumo: menos afetividade, menos preocupação com o preço, já que custa tão pouco, cada vez mais compras. Objetos maiores, seja um despertador, um telefone, um brinquedinho qualquer ou um carro.
A publicidade nos diz: compre um carro novo, este agora tem preocupação ecológica, é bonito e possante, serás desejado pelas mulheres e invejado pelos homens, as donas de casa poderão comprar mais no mercado, já que o porta-malas é avantajado. Troque de celular, com este novo você será feliz, será aceito, será admirado, poderá ouvir música, assistir televisão, jogar video games e serve até para telefonar.
Mas no fim das contas, as coisas acabam cumprindo sempre as mesmas funções. Quero dizer, certas soluções somente surgiram para resolver problemas não existiam antes de tais soluções.
E assim, seguindo a filosofia do descartável, consumindo coisas que não são feitas para durar e que acabam formando um continente de plástico a vagar pelo oceano, acabaremos nós sendo descartados.

4 comentários:

  1. O consumo desenfreado faz com que tenhamos menos afetividade pelo que compramos porque comprar se tornou uma obrigação. Somos intimados pelas propagandas. Comprar tranformou-se numa patologia, numa obsessão.
    Essa é a cultura do TER, criada e mantida pelo capitalismo selvagem.

    ResponderExcluir
  2. Bem lembrado, comprar tornou-se algo compulsivo e TER passou, de alguma estranha forma, a significar SER.

    ResponderExcluir
  3. Também é curioso pensar que quanto mais o indivíduo consome, mais se torna frustrado e vulnerável ao assédio da propaganda.

    ResponderExcluir
  4. Na verdade eu não sou contra a propaganda, desde que tenha a função de informar, tornar público, e não de anunciar como indispensável um produto descartável ou tornar descartável um produto de grande durabilidade.

    ResponderExcluir