quarta-feira, 24 de junho de 2009

Parece aquele tempo, mas não é mais

Para certas coisas a nostalgia não serve. Então, aproveitando a deixa do meu amigo Alexandre, aproveito para falar sobre a nova piada contada por nosso ilustre pessoal da casa civil: a tal da MP458, que dispõe sobre a regularização da ocupação de áreas situadas na Amazônia. Quer dizer, antigamente tinhamos medo de que a Amazônia fosse vendida, hoje esse medo se concretizou, mas ainda pior: será vendida sim, mas por preço simbólico ou doada.
Claro, não sou jurista, sou leigo, apenas um leitor, mas me considero o que meu amigo chama de "ambientalista de fim de semana".
Na tal da medida há um artigo que protege as áreas reservadas à administração militar federal, que são chamadas, de acordo com a redação da própria medida, de área de interesse social. Em contrapartida, preserva áreas ocupadas por populações indígenas e comunidades quilombolas, as quais, segundo a redação, parecem não ser nenhum interesse social. Realmente, o senso de humor e ironia do nosso pessoal no governo são muito refinados, só para citar um dos pontos de incoerência da medida, mas o pior dessa medida é seu aspecto de sangria, de levar à morte lenta e dolorosa.
Mas, voltando ao diálogo com meu amigo, digo que sou (somos) de um tempo em que, quando falávamos em reforma agrária, éramos banidos a pau das rodas de conversa, sob a alegação de que estávamos proferindo um discurso esquerdistazinho manipulado sobre algo que visava tirar a terra dos que tinham (e continuam tendo aos montes), para passá-las para pessoas desocupadas e aproveitadoras. Sim, naquele tempo (que ainda não faz tanto tempo assim) pequenos agricultores que buscavam investir em agricultura familiar eram chamados de aproveitadores e desocupados. Hoje, um "cara" que parecia antes estar do nosso lado chama os que estão de fato do nosso lado de mentirosos. Quer dizer que as terras que não se sabe como são demarcadas serão repassadas para ocupantes, áreas de preservação serão asfaltadas, dando lugar a rodovias, ou tornar-se-ão imensas áreas de pastagem?
É de se pensar: não haveriam inúmeras maneiras de burlar o sistema (olha ele aí de novo) de distribuição dessas terras, dada sua extensão e dúbia demarcação? Não seria melhor estabelecer mais áreas de preservação florestal?
Certa vez Hunter Thompson disse que em uma nação governada por suínos, os porcos sobem na vida. Aqui parece que a suinocultura está com tudo.

2 comentários:

  1. Acho que o negócio é o povo aproveitar que está na lama e aprender a chafurdar...

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  2. Chafurdando estamos há tempos. Resta saber se estamos todos na mesma lama...

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