terça-feira, 23 de junho de 2009

Mais listas e diluições

Meus (3) leitores podem até me acusar escrever textos mal humorados, ironizando com as situações que são incômodas para mim. Mas, ao ler este novo texto, não poderão deixar de notar que na verdade é um texto mal humorado ironizando com as situações que me incomodam. Tenho esbarrado freqüentemente (frequentemente) em livros de listas: os sei lá quantos discos, os não sei quantos vinhos, os milhares de filmes, tudo para ser consumido antes de morrer. Consumido, diga-se, e não lido, apreciado, assitido ou mesmo degustado. Seria isto uma tentativa de comercializar e massificar a cultura, ou um grande e genial golpe de editoras combinadas com produtores de outros setores culturais para obter mais vendas? Para mim não interessa, pois, para não ficar atrás (ou para trás) resolvi publicar minha lista particular dos livros e autores juntamente com os motivos para não deixar sua leitura de lado:
1- No urubuquaquá, no pinhém.
Como se não bastasse ter elevado a literatura brasileira a outro patamar com "Sagarana" e "Grande Sertão: Veredas" Guimarães Rosa conseguiu o melhor título da literatura brasileira. Reparem na colação da virgula.
2-Dom Casmurro.
Machado de Assis. Não há necessidade de maiores comentários, fora que até hoje ainda não se sabe ao certo se o diabo da Capitu chifrou mesmo o Bento Santiago.
3-James Joyce (todas as obras)
Se tem algo de bom para quem quer posar de intelectual é citar James Joyce. Quer dizer, o sujeito está em uma festa de intelectualóides videomakers, sentindo-se pouco à vontade, sem assunto com ninguém, quando de repente acontece aquela mostra de um curta metragem produzido pelo anfitrião que, ao final da exibição espera os comentários da platéia Basta dizer: gostei do personagem principal, remete ao paradigma do Ulisses Joyciano. Poucos se atreveram a lê-lo, dos que leram uns 90% entenderam chongas. Além, é claro, de ser um livro cuja importância é tão grande que houve até a instituição de um feriado em sua homenagem.
4-Moby Dick.
Mostra-me quem diga que existe melhor história de pescador do que esta, que eu te mostro alguém que não sabe o que diz.
5-Todos os livros do tipo mil e uma coisas para fazer antes de morrer.
É de vital importância para todos, o verdadeiro segredo da imortalidade. Basta fazer apenas mil das mil e uma coisas e não morrerás nunca, já que não são permitidas pendências do lado de cá.
E ainda dizem que é difícil alcançar a imortalidade.

2 comentários:

  1. Ao ler este post, caro amigo Profano, me deparei com uma vontade de fazer alguns comentários, a saber:
    1. Esse teu texto dialoga com o Ulisses, do Joyce. É impressionante como a citação ao Bloom's Day enriquece singularmente, atribuindo um valor estético a este blog;
    2. A Capitu não chifrou Bentinho. É certo que teve um affair com o Escobar, mas trair, ela não traiu.;
    3. Pensando bem, a Capitu botou um par de chifre no Bento sim. Ela e o seminarista não resistiram e foram às vias de fato!;
    4. Prefiro fazer uma das mil e uma coisas. Assim, não corro o risco de fazer a milésima-primeira por engano;
    5. Sobre o Guimarães, concordo plenamente. Embora conheça apenas o título de "No urubuquaquá*, no pinhém". De resto, estou de acordo.

    * acho que ficaria "No patoquaquá,..." mas sei que o autor já não está mais entre nós, então deixa como está.

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  2. Acho muito interessante apontares um diálogo de um texto com o outro. Definitivamente esta nova moda no estudo da literatura deu sentido para as orelhas de livro.

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