terça-feira, 17 de maio de 2011

Parei de fumar cigarros

É verdade. Mandei aos diabos aquela imagem mental do intelectual que solitariamente fuma enquanto tece um novo texto, ou toma café e acende um cigarro para, com bastante charme, reiterar seu pessimismo inato. Claro, tudo coisa de intelectual. E afinal de contas essas imagens fazem muito sentido, desde que a pessoa esteja em Paris nos anos de mil oitocentos e quarenta, ou em outro lugar qualquer onde se possa indiscriminadamente dar umas baforadas.
Nunca pretendi usar este espaço para exercitar a pieguice, mas parar de fumar é algo que requer bastante ajuda, de si mesmo e algumas outras, vindas do exterior, digamos. O pior é que, quando se larga a merda do cigarro, tudo em que se pode pensar é que aqueles relatos dos que diziam que era uma experiência bastante intensa e dolorosa estavam absolutamente certos. 
O sujeito para de fumar tabaco e passa a ter prisão de ventre, insônia, dificuldade de concentração, irritação, o humor piora bastante, dentre tantas outras manifestações sintomáticas e assintomáticas também, além de que os benefícios por parar parecem vir somente depois de muito tempo, ou ao menos são percebidos somente depois de um tempo considerável.
Seja como for, é preciso encontrar um motivo para manter a coragem e a determinação, caso contrário, logo o sujeito não só passa de ex-fumante para fumante passivo, porque passa a procurar rodas de fumantes para disfarçadamente poder inalar um pouco de fumaça, como também corre o risco de voltar a fumar desesperadamente um cigarro após o outro, acendendo aquele que recém foi sacado do maço naquele que acabou de fumar, já sem esperança de parar em qualquer tempo, já sem sequer pensar na imagem do intelectual, já sem degustar pelo menos um café forte ou fraco, já sem ligar para o resto todo, pensando apenas no prazer imediato garantido pelo minúsculo tubo de fumaça.
Um dos argumentos encorajadores para o candidato a ex-fumante é o de que, logo depois de completar um mês, pode-se procurar outros amigos, que também pararam, para juntos contarem a todos na roda de conversa sobre o esforço heróico, sobre como foi difícil, sobre como não se deixavam abater a cada vez batia aquela miserável  vontade de acender um daqueles malditos.
Também constitui um excelente argumento o fato de que o governo arrecada milhões em impostos sobre os cigarros, dinheiro este que pode muito bem ser canalizado pelos canais de corrupção e financiar sabe-se lá qual barbárie. Claro, se o sujeito que tenta parar é daqueles que não acredita em corrupção, podemos usar este dado de outra maneira, visto que poderá passar a ser visto como subversivo por se negar a repassar dinheiro de impostos ao governo, o que, temos de convir que possui muito mais charme do que soltar fumaça por determinados orifícios do corpo.
Outros argumentos podem ser encontrados nas revistas ou livros de auto-ajuda, claro. Mas não pretendo expor nenhum deles aqui.
Mas existem, também, alguns mitos sobre parar de fumar. Vejamos alguns:
Parar de fumar engorda: Mito. Prova de que tal idéia está errada é que nunca elefante algum fumou em toda sua vida e, conseqüentemente, nunca parou de fumar. Entretanto os elefantes são gordos.
Baudelaire dizia maravilhas a respeito de fumar e enxergar os demônios que assolavam a alma na fumaça do cigarro: Verdade. Mas tenta encontrar o Baudelaire para te dizer isso hoje. Por onde ele andará?  Obviamente não pode ser encontrado (não aceitarei respostas que digam: Montparnasse). Portanto não sei se este pode ser considerado um apontamento válido e apenas citei-o aqui para endossar a minha imagem de intelectual incompreendido, embora atualmente o Baudelaire se me afigure um clichê. E também, essa história de enxergar coisas na fumaça pode não soar muito bem, principalmente depois de umas doses de conhaque, já que do absinto me abstenho.
Mas a verdade é que eu poderia ocupar um enorme espaço virtual do blog fazendo apontamentos e digressões a respeito de parar de fumar cigarros, mas acho que ficaria um tanto cansativo para o leitor habituado com textos rápidos daqui. No entanto, ocupo-me em escrever para não cair na tentação.

4 comentários:

  1. Te dou a maior força, meu amigo. Fumar é um absurdo inominável, no meu ponto de vista (e dos médicos). Aposto que a Bianca agradece. Que tenhas garra e determinação!

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  2. E ao menos posso fazer piada com a coisa toda agora.

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  3. Eu ainda quero parar de fumar, mas não estou emocionalmente preparado. Parabéns pela vitória e pelo texto.

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  4. Com tanto automóvel andando livremente por aí, quem precisa fumar para exercer o direito de inalar fumaça?

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