quinta-feira, 19 de maio de 2011

Velha poética

Após tentar enfrentar o cânone, proferindo um tipo de escrita formalmente subversiva, ou pelo menos semanticamente intrigante, ou mesmo ensaiar um pequeno e quase inaudível rosnado contra o tal, ainda que de forma bastante tímida, e romper com os padrões formais da literatura, sendo atacado por todos os lados e em todos os sentidos por loucos, invejosos, puxa-sacos, deslumbrados, ociosos, ignorantes, pseudo intelectuais e pelos mais diversos tipos de ser humano, leitor alfabetizado ou analfabeto, sendo mal interpretado e mal interpelado, chego à conclusão de que, após breve reflexão a respeito da teoria do poeta sórdido, do Manoel Bandeira, a nova poética é inatingível, pelos leitores, mas principalmente pelos poetas, que se voltam cada vez mais não só para uma ligação com os padrões e modelos pré-determinados, mas para uma composição infantil, o que significativamente quer dizer que a nova onda poética que nos atinge é tão falsa quanto a atual juventude comunista que ocupa-se mais de vestir camisetas do Jack Daniel's do que comunizar propriamente, e verdadeiramente, a nova poesia constitui-se de palavras difíceis, conceitos vagos, sentimentalismo, pieguice, não passando de um arranjo de palavras bonitas, mas ao mesmo tempo vazias proferidas não menos que por alguém sentado em uma cadeira na frente de um computador a lamentar ou a exaltar um amor passado e ido, fictício ou real, mas seja lá como for, afogando na retomada vã do romantismo, do tipo: oh, meu irmão, quem como eu a não te ver está cansado das sombras diáfanas que aos olhos metafóricos fogem da esfinge no sofá e blá-blá-blá.
Eis que surge um novo poeta forrado de velho. Todavia ainda existem aqueles que acreditam que o concretismo trará ou trouxe, mesmo no passado ainda não descoberto, uma explicação para tudo isto, ou ao menos mais uma teoria, mais como manifesto do que como movimento em si, mas sabendo que tudo isto seria possível ou tentado, também eles teriam desistido.

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