domingo, 28 de junho de 2009

Contexto é importante

Hoje a frase que mais me chamou a atenção foi dita por um dos comentaristas de futebol, na final da copa das confederações, enquanto a seleção brasileira perdia o jogo por dois a zero: "O Brasil está aceitando passivamente o domínio americano". Fiquei pensando em como parece que estamos perdendo a supremacia até mesmo onde éramos absolutos. Pensei: será que nesta política entreguista "o cara" está atingindo o futebol também? Mas não. Felizmente o comentarista referia-se apenas à patida de futebol, fui salvo da paranóia pelo contexto da frase.
Posso dizer agora que a seleção ganhou o campeonato, mas se pensarmos no exemplo irônico da Holanda versus Brasil na copa de noventeoito (noventa e oito) quando, um dia após a vitória, um banco brasileiro foi comprado por um banco holandês dá um certo medo de pensar no que pode vir por aí.
Sou um mero espectador de futebol, apenas assisto, nunca acreditei nessa propaganda de resgate da auto-estima da nação através das vitórias no esporte, seja lá em qual modalidade for. Poderia até apelar para o lugar comum dizendo que a vitória no futebol não paga a dívida externa.
Mas é de se pensar, deixando o contexto de lado, a frase do dia diz muito mais do que pretende.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Parece aquele tempo, mas não é mais

Para certas coisas a nostalgia não serve. Então, aproveitando a deixa do meu amigo Alexandre, aproveito para falar sobre a nova piada contada por nosso ilustre pessoal da casa civil: a tal da MP458, que dispõe sobre a regularização da ocupação de áreas situadas na Amazônia. Quer dizer, antigamente tinhamos medo de que a Amazônia fosse vendida, hoje esse medo se concretizou, mas ainda pior: será vendida sim, mas por preço simbólico ou doada.
Claro, não sou jurista, sou leigo, apenas um leitor, mas me considero o que meu amigo chama de "ambientalista de fim de semana".
Na tal da medida há um artigo que protege as áreas reservadas à administração militar federal, que são chamadas, de acordo com a redação da própria medida, de área de interesse social. Em contrapartida, preserva áreas ocupadas por populações indígenas e comunidades quilombolas, as quais, segundo a redação, parecem não ser nenhum interesse social. Realmente, o senso de humor e ironia do nosso pessoal no governo são muito refinados, só para citar um dos pontos de incoerência da medida, mas o pior dessa medida é seu aspecto de sangria, de levar à morte lenta e dolorosa.
Mas, voltando ao diálogo com meu amigo, digo que sou (somos) de um tempo em que, quando falávamos em reforma agrária, éramos banidos a pau das rodas de conversa, sob a alegação de que estávamos proferindo um discurso esquerdistazinho manipulado sobre algo que visava tirar a terra dos que tinham (e continuam tendo aos montes), para passá-las para pessoas desocupadas e aproveitadoras. Sim, naquele tempo (que ainda não faz tanto tempo assim) pequenos agricultores que buscavam investir em agricultura familiar eram chamados de aproveitadores e desocupados. Hoje, um "cara" que parecia antes estar do nosso lado chama os que estão de fato do nosso lado de mentirosos. Quer dizer que as terras que não se sabe como são demarcadas serão repassadas para ocupantes, áreas de preservação serão asfaltadas, dando lugar a rodovias, ou tornar-se-ão imensas áreas de pastagem?
É de se pensar: não haveriam inúmeras maneiras de burlar o sistema (olha ele aí de novo) de distribuição dessas terras, dada sua extensão e dúbia demarcação? Não seria melhor estabelecer mais áreas de preservação florestal?
Certa vez Hunter Thompson disse que em uma nação governada por suínos, os porcos sobem na vida. Aqui parece que a suinocultura está com tudo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Mais listas e diluições

Meus (3) leitores podem até me acusar escrever textos mal humorados, ironizando com as situações que são incômodas para mim. Mas, ao ler este novo texto, não poderão deixar de notar que na verdade é um texto mal humorado ironizando com as situações que me incomodam. Tenho esbarrado freqüentemente (frequentemente) em livros de listas: os sei lá quantos discos, os não sei quantos vinhos, os milhares de filmes, tudo para ser consumido antes de morrer. Consumido, diga-se, e não lido, apreciado, assitido ou mesmo degustado. Seria isto uma tentativa de comercializar e massificar a cultura, ou um grande e genial golpe de editoras combinadas com produtores de outros setores culturais para obter mais vendas? Para mim não interessa, pois, para não ficar atrás (ou para trás) resolvi publicar minha lista particular dos livros e autores juntamente com os motivos para não deixar sua leitura de lado:
1- No urubuquaquá, no pinhém.
Como se não bastasse ter elevado a literatura brasileira a outro patamar com "Sagarana" e "Grande Sertão: Veredas" Guimarães Rosa conseguiu o melhor título da literatura brasileira. Reparem na colação da virgula.
2-Dom Casmurro.
Machado de Assis. Não há necessidade de maiores comentários, fora que até hoje ainda não se sabe ao certo se o diabo da Capitu chifrou mesmo o Bento Santiago.
3-James Joyce (todas as obras)
Se tem algo de bom para quem quer posar de intelectual é citar James Joyce. Quer dizer, o sujeito está em uma festa de intelectualóides videomakers, sentindo-se pouco à vontade, sem assunto com ninguém, quando de repente acontece aquela mostra de um curta metragem produzido pelo anfitrião que, ao final da exibição espera os comentários da platéia Basta dizer: gostei do personagem principal, remete ao paradigma do Ulisses Joyciano. Poucos se atreveram a lê-lo, dos que leram uns 90% entenderam chongas. Além, é claro, de ser um livro cuja importância é tão grande que houve até a instituição de um feriado em sua homenagem.
4-Moby Dick.
Mostra-me quem diga que existe melhor história de pescador do que esta, que eu te mostro alguém que não sabe o que diz.
5-Todos os livros do tipo mil e uma coisas para fazer antes de morrer.
É de vital importância para todos, o verdadeiro segredo da imortalidade. Basta fazer apenas mil das mil e uma coisas e não morrerás nunca, já que não são permitidas pendências do lado de cá.
E ainda dizem que é difícil alcançar a imortalidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Dia do Leopoldo

Para comemorar o Bloom's Day, nada melhor do que um postagem novinha em folha.
Por acreditar que o "Ulisses" do Joyce é um livro para ser venerado, as palavras ficaram poucas para tamanha comemoração. Portanto, em 16 horas tentando escrever algo a respeito dessa obra intransponível, tenho meu próprio dia de Leopold Bloom, mas sem ir a enterro algum. Nada de notável aconteceu, não foi feriado por aqui e a maioria das pessoas continua acreditando que Ulisses era um velhinho de olhos estranhos que caiu de helicóptero no mar.
Não posso e nem me atrevo a deixar nada de muito substancial senão umas poucas linhas a respeito do que aconteceu hoje.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Porque somos como somos

Então, já que estamos enfrentando um frio daqueles ultimamente, resolvi divagar um pouco sobre nossa condição e, também, sobre isto que chamamos inverno. Há quem diga que nós, os gaúchos, por possuirmos uma particular posição geográfica e ficarmos espremidos juntos à Argentina e Uruguai, desenvolvemos uma cultura particular, que nos difere do resto do Brasil. Concordo, afinal, o gaúcho é alguém que teima em dizer, mesmo em um frio desgraçado como o que faz agora, que vive em um país tropical.
Mas não são apenas essas particularidades que fazem de nós um povo dentro de outro povo, essa espécie de exilado dentro do próprio país, mas muitas outras, das quais citarei apenas as que considero mais relevantes:
As mulheres gaúchas são mais bonitas. Por passarem boa parte do ano entrouxadas acabam desenvolvendo uma aura de mistério, nunca se sabe o que pode ser revelado ao cair das palas e blusões de lã, jaquetas, mantas, toucas, etc. Como conseqüência das vestes, a mulher gaúcha não é bronzeada, e sim prateada, o que acaba colocando-a, inevitavelmente, em um patamar mais elevado com relação às mulheres de outros estados.
Nos dias mais frios pode-se desfrutar de muitas delícias proporcionadas pelo inverno: o pinhão, o quentão, a lareira acesa e poder fechar o dedão da mão esquerda na gaveta das meias, o que causa uma dor infernal em qualquer clima, mas se agrava no frio.
Poder colaborar com a indústria farmacêutica. Sim, o futuro de qualquer país depende da industrialização, então aqui contraímos todo tipo de infecção respiratória, resfriado, gripe do porco, da vaca, do camelo e acabamos passando boa parte do tempo de cama, o que também não deixa de ser algo inspirador.
Em alguns lugares temos neblina intensa, com isso, podemos estar em londres sem ter de viajar para a Inglaterra (para a Europa mais especificamente). Não posso dizer que acabemos avistando o Big Ben, mas eu mesmo já comprei um relojão de pulso e sempre ando por aí pensando que estou na sei-lá-o-quê-street.
Esse frio também faz com que bebamos mais vinho do que cerveja, o que também traz vários benefícios à saúde, principalmente à saúde do vinicultor (o cara que produz vinho, o qual contém várias coisas, dentre elas a uva, que é feita de vinho).
Nossa denominação também deve ser observada. Aqui no Rio Grande do Sul não somos chamados de sulriograndenses ou de riongrandenses do sul, mas sim de gaúchos, um termo que até hoje ainda não está bem explicado.
E, finalmente, uma grande vantagem que vejo aqui neste estado é a de que não temos axé music (até se ouve umas e outras por aí, mas contrabandeada e nunca tocada por um autêntico sujeito daqui) e somos considerados o estado mais rockeiro (roqueiro) do país, mas isto já é outra conversa.