terça-feira, 13 de abril de 2010

Armadilhas da baixa tecnologia

Existem vários tipos de conservadores. Aqueles que se agarram a valores antigos e rejeitam a evolução e o avanço natural dos padrões estéticos, de comportamento, ou ambos. Aqueles que se negam a ter aparelhos de disco laser e que acabaram sendo substituidos pelos que se recusam a ouvir MP3. Há os que dizem que bons tempos eram aqueles em que tínhamos palmatória nos colégios. Os que acham que a internet não serve para nada. Claro, sem falar nos que votam sempre no mesmo partido ou candidatos, se bem que isso já é outra pauta e não deverá ser tratado aqui este assunto. Enfim, todos aqueles que dizem: bom mesmo é do jeito antigo. Mas há também aqueles que por ingenuidade, convicção ou mesmo puro deslumbramento, como eu, se apegam à baixa tecnologia e compram máquinas fotográficas com filme (as ditas máquinas analógicas), que não têm saída para cabo USB, e que a cada vez que procuram um filme fotográfico, especialmente preto e branco, são olhados com um certo ar de desdém combinado com comiseração pelos funcionários de casas fotográficas, que ficam de boca aberta quando você chega entra na loja, pergunta quanto custa a reveleção e tira da mochila um rolo de filme, ao invés de tirar um CD ou um daqueles pen-drive (acho que a tradução mais aproximada seria motorista doloroso).
Mas, justamente o que queria dizer é que comprei, já faz aproximadamente um ano, uma câmera que possui justamente todos os requisitos de baixa tecnologia: fotografias levemente desfocadas, dificuldade de enquadramento, ou seja, um verdadeiro exercício para o olho do fotógrafo, já que a fotografia é também um exercício que exige repetição. Claro, além de diversas outras exigências sobre as quais meu repertório não permite grandes divagações, ou talvez eu simplesmente não esteja com a paciência necessária para tanto.
A grande desvantagem de tal máquina é não permitir a digitalização direta (ou seja, passar as fotos direto da câmera para o computador), fazendo com que tenha-se que usar um método intermediário para colocá-las no meio digital.
Eu gostaria mesmo de postar minhas fotos aqui, e quase todos para quem eu falei a respeito das fotografias disseram que eu deveria fazê-lo. Então, para satisfazer a curiosidade dos leitores e para seguir a orientação dos que me aconselharam a colocar as fotos aqui no blog, não vejo alternativa, a não ser descrever algumas delas, para que possam ter uma ideia do que se trata.
Foto número um:
Uma calçada retratada obliquamente, com um muro do lado esquero, do qual aparece apenas um pilar e uma rachadura na base, entre a calçada e um de seus detalhes ornamentais. À frente vê-se um poste e uma pessoa de mochila entre o poste e o muro.
À esquerda pode-se ver algumas árvores, mas não dá para saber (já que o ângulo da foto não permite) se o dia está nublado ou ensolarado, mas a julgar pela luminosidade, pode-se supor que se trata de um dia de sol.
Foto número dois:
Uma imagem desfocada em tom predominantemente cinza, do que parece ser uma floresta, mas que por pertencer a uma série de fotografias urbanas supõe-se que seja o parque da redenção.
Foto número três:
Vários riscos luminosos vermelhos, alaranjados e brancos. O que nos leva a crer que seja uma fotografia tirada à noite com o obturador da máquina em posição B e aberto durante uns vinte e cinco segundos.
Foto número quatro:
Céu azul em um tom saturado, um semáforo ligado através de uma haste de metal que se curva para a direita com uma placa pendurada logo ao lado da sinaleira, que diz: nunca (em letras maiúsculas e grifado em vermelho) tranque o cruzamento. O semáforo está vermelho.
Foto número cinco:
Uma faixa amarela ao lado de um enorme "pare" escrito em letras brancas, já um pouco desgastadas, sobre o asfalto cinza.

Por enquanto são estas as fotografias que tenho a publicar aqui. Em breve publicarei mais algumas. Ainda não decidi se através de imagens propriamente, ou de narração de imagens.

4 comentários:

  1. Eis, então, um douto que profana a própria arte. Traduzir as fotografias é um achado. Sugiro que faça os dois: eventualmente publique algumas fotos em imagem e, em outros momentos, faça esse trabalho.
    E aproveita estes sinceros elogios que eu não costumo puxar o saco de niguém!

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  2. Assim que solucionar os problemas de digitalização das imagens (afinal estou meio mal aparelhado no sentido informático) vou tentar publicar algumas por aqui. Preferencialmente as que foram "narradas".
    Eis que surge um problema filosófico: os leitores reconheceriam as fotos aqui descritas? Bom tema para discutir as diferentes perspectivas e pontos de vista.

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  3. A idéia de descrever as fotografias é um primor de originalidade. Quanto aos conservadores decadentes, há aqueles que sentem saudades da ditadura, e não são exatamente os velhos, acredite!

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  4. Pois é Eduardo, não só acredito como conheço vários. Aliás, isto dá uma boa idéia para uma futura postagem.
    Obrigado.

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