quinta-feira, 27 de maio de 2010

Imagens de uma mente atordoada ou dicas para assegurar ou segurar sua vaga no merdado de trabalho

O empreendedorismo, doce e belo, que tantas boas sensações desperta, que tanta esperança inspira, que tantas belas histórias revela e que, enfim, tanto renova nosso vocabulário.
Afinal, de onde vieram termos como focar, empregabilidade (no sentido de conseguir trabalho), vestir a camisa (não no sentido da copa do mundo), inserção, missão (não no sentido do filme do Rambo ou daquele com o De Niro) balanço patrimonial, ciclo financeiro, agregar valor e empreendedorismo? Claro, do próprio empreendedorismo. Mas afinal o verdadeiro (bom) empreendedor é aquele que submete seus futuros colaboradores (empregados) a uma boa avaliação psicológica para engressar em sua empresa
Sempre questionei a validade dos testes psicológicos para avaliação das aptidões em empregos, que na verdade deveriam se chamar testes psicodélicos. Vale a pena pensar se quem é testado é o entrevistado ou o entrevistador.
Por exemplo: o sujeito quer se declarar apto a pegar um carro e sair por aí dirigindo ou fazendo todo aquele tipo de loucura que sabemos que certos motoristas fazem, mas no fundo todos são alertados por algum amigo experiente: Não esquece de colocar o chão no bonequinho, não desenha o boneco com as mãos nos bolsos. E lá vai o testado e coloca chão no boneco que abana as mãos, mas está sem cabeça. Claro, tudo muito útil para o futuro motorista.
Outro método bastante conhecido é o Rorschach, cujo nome é difícil de escrever e pronunciar. Mas é um teste muito simples que avalia a reação da pessoa, seu grau de agressividade, dentre outras coisas. Mas basicamente consiste de manchas simétricas, nas quais invariavelmente a pessoa testada vê algo, geralmente pornográfico, mas sempre dá a melhor resposta possível para o psicólogo/avaliador, como uma linda borboleta, coelhos dançando, uma árvore, etc.
Quanto aos desenhos, digo que posso imaginar uma infinidade de situações: eu caminhando, eu sentado lendo um livro, eu eu voando, eu com metralhadora, eu sem metralhadora, eu com a cabeça embaixo do braço, ou simplesmente e mais racionalmente, eu de frente olhando para a câmera desenhística.
Mas vai chegar um tempo em que as empresas testarão a honestidade. Não, não testarão honestidade coisa nenhuma, os entrevistados usarão de sua honestidade para pleitear vagas no mercado de trabalho e aumentarão sua empregabilidade (que é uma nova palavra oriunda do vocabulário empreendedorístico) e, obviamente, ao desenhar cenas relacionadas a determinadas palavras reagirão assim:
Trabalho: uma pessoa nadando em um mar sem fim, sem nenhuma possibilidade de terra à vista no horizonte para qualquer um dos lados, com um imenso tubarão arrancando-lhe os pedaços.
Colega de trabalho: uma pessoa sentada em uma cadeira, de frente para um computador, ou uma pessoa sentada em uma cadeira, numa sala escura, de frente para um computador, com um sujeito com cara de maníaco pronto para dar-lhe uma facada nas costas.
Chefe: um enorme dragão de três cabeças cuspindo fogo por uma delas e nas outras duas mastigando várias pessoas. Claro, em tal teste, o otimista faria apenas uma pequena variação do desenho. Desenhar-se-ia como o cavaleiro que derrotou tal dragão e agora sobre seu corpo aginizante pisa triunfante e está pronto para desferir o golpe mortal e levar uma de suas presas como troféu.
Empresa: um grande e assustador moedor de carne humana, no melhor estilo "the wall" do pink floyd. Pelo que, claro, sempre poderá responder ao entrevistador, caso este não aprecie o desenho, que estava apenas pensando que a música é ótima.
Paz: o enorme dragão morto, com o moedor de carne humana pegando fogo e o herói da cena anterior saindo sorrateiramente com uma caixa de fósforos no bolso, obviamente com a mão fora do bolso, já que no desenho percebe-se apenas o relevo da caixa no bolso.
Claro que todas essas possibilidades de desenho são muito relativas e cada um deve procurar sua melhor forma de expressar sua criatividade na hora da entrevista, mas aconselho que esqueça de desenhar-se voando ou algo assim, já que os entrevistadores desenvolveram métodos bastante eficazes contra os espertalhões dissimulados que tentam enganá-los na hora da entrevista e claro, na hora do Rorschach, não diga coisas como "estou vendo um casal transando", ou "estou vendo uma vagina" (empregando, obviamente, o termo chulo para vagina) e diga simplesmente: Não vejo nada, acho melhor partir para o oftamologista. Aliás, esta empresa oferece plano de saúde?
E assim, com essas dicas de como se comportar em entrevistas, está garantida sua inserção no merdado de trabalho, até que submetido possa se tornar um empreendedor e sair empreendendo por aí.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cemomeração

Já que feito bom desmemoriado esqueci de lembrar da passagem do aniversário de um ano deste modesto espaço, aviso aos leitores que não esqueci de escrever e publicar coisas (textos) por aqui. Apenas estou preparando a grande promoção de um ano de Douto & Profano. Como podem notar, já passei a grafar o título do blog com "&", no melhor estilo Lennon & Mccartney; Jagger & Richards; Delaney & Bonnie; Tom & Jerry; Didi, Dedé, Mussum & Zacarias, e assim por diante.
Aliás, no período de cemomeração do aniversário do blog, os comentários dos leitores serão publicados, ao invés de sumariamente excluídos como de costume, até atingir a marca de um milhão de visitas, pelo que não será distribuído prêmio algum, mas será engraçado ver este espaço com um número tão expressivo de visitas, já que ultimamente nem o próprio autor o tem visitado.
Aliás, antes que algum revisor/corretor de plantão queira comentar a respeito do título desta postagem, aviso que é proposital, já que comemoração significa lembrar junto, ter uma memória em comum (o que prefiro fazer apenas com as pessoas mais íntimas, especialmente com ela), que deve ser visitada, respeitada, celebrada, adorada, e também porque como já disse, tenho esquecido de escrever aqui (o que me leva a crer que deveria ser desmemoração, ou outro troço qualquer complicado de se falar), lanço eu minha própria nova palavra em nosso revolucionado, vilipendiado, agredido, fornicado (e tantos outros adjetivos pomposos que não consigo lembrar agora) acervo lexical.